Folha de S. Paulo


Documentário 'Supersonic' revê início da carreira e anos selvagens do Oasis

Certa vez, Noel Gallagher acordou e encontrou seu aparelho de som encharcado. Liam, irmão mais novo do guitarrista do Oasis, havia chegado em casa um tanto bêbado, não encontrou o interruptor de luz do quarto que compartilhavam e, sem perceber muito bem o que estava fazendo, urinou na pobre vitrola.

O que era para ser só um episódio nojento na vida de adolescentes da classe trabalhadora de Manchester na década de 1980, virou a fagulha de uma das brigas mais célebres da história do rock.

Contada quase como uma piada pelo vocalista, a história está em "Oasis: Supersonic", documentário sobre os anos de sucesso extremo do quinteto britânico e a histeria em torno dos irmãos Gallagher.

Embora a banda tenha desfrutado da fama durante quase toda a carreira, foi no período entre 1994 e 1996, quando lançaram seus dois primeiros discos, "Definitely Maybe" e "What's the Story (Morning Glory?)", que o grupo experimentou o descontrole de fãs e elogios sem freios da imprensa musical.

O fim deste período é marcado pelos dois shows que o Oasis fez em Knebworth, vilarejo próximo a Londres, que reuniram 250 mil fãs, ainda que 2,5 milhões de pessoas tenham procurado entradas para assistir às apresentações.

"De uma hora para outra, eles deixaram de ser completos desconhecidos e se tornaram a maior banda do mundo", afirma Mat Whitecross, diretor do filme, por telefone.

"O documentário quis acompanhar um processo de sucesso que foi muito rápido, como ocorreu com os Beatles."

Whitecross, filho de uma argentina mas com pesado sotaque britânico, conta que concluiu o filme em seis meses –tempo surreal para uma obra baseada em extensa pesquisa de imagens de arquivo.

A narrativa de "Supersonic" segue o mesmo padrão de "Amy", documentário sobre a cantora Amy Winehouse e vencedor do Oscar. Abdica do formato "talking heads", em que o entrevistado fala para a câmera, e aposta numa colagem de cenas raras, da adolescência dos membros do grupo e da intimidade da banda.

A similaridade se explica pela presença do britânico Asif Kapadia, diretor de "Amy", na produção do filme, que será exibido em São Paulo neste sábado (10), em dois horários, dentro da programação da Semana Internacional de Música de São Paulo.

Além de Kapadia, Noel e Liam foram produtores executivos do filme, o que, diz Whitecross, não teve influência alguma na edição final ou em tópicos que deveriam ser abordados ou evitados. Eles, na verdade, guiam "Supersonic" de uma outra maneira.

É por meio dos depoimentos dos irmãos Gallagher que o roteiro passeia pela briga de egos, a pesada relação com drogas e álcool, a importância de outros músicos da banda, as polêmicas na imprensa e a infância conturbada devido ao abandono do pai –tudo isso sem que eles se encontrassem nem uma única vez para fazer o documentário.

"Eu tinha esperança de gravá-los juntos, mas, no final, foi melhor, porque eles falaram com mais profundidade sobre as histórias. Foi sem amarras", afirma Whitecross.

Ainda que o conflito predomine, ainda resta espaço para música. "Supersonic" deve agradar os fãs mais fervorosos ao, além de montar um panorama completo do início da banda, revelar episódios particulares do grupo, além de emocionar com faixas clássicas como "Live Forever" e "Don't Look Back in Anger".

O documentário exibe uma gravação de um ensaio no qual a banda toca "All Around The World" ainda no início dos anos 1990. Até então, a canção, lançada em 1997, era tida como uma faixa posterior aos primeiros anos do Oasis.

Também desvela a origem do lado b "Talk Tonight", que nasceu a partir de uma briga, claro. Liam, entupido de drogas, errou as letras num show em Los Angeles e finalizou a apresentação ao atirar seu pandeiro na cabeça de Noel, que abandonou a turnê. O episódio quase foi o fim do grupo.

O lançamento do filme fez com que especulações sobre uma possível reunião do Oasis pudesse ocorrer, o que Noel nega a cada entrevista.

Para Whitecross, o "mais importante é que eles se reúnam como irmãos e amigos, mais do que como banda".

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OASIS: SUPERSONIC
DIREÇÃO Mat Whitecross
PRODUÇÃO Reino Unido, 2016
QUANDO sábado (10), às 15h e às 17h
ONDE Centro Cultural São Paulo, r. Vergueiro, 1.000, tel. (11) 3397-4002
QUANTO grátis (ingressos devem ser retirados 1 hora antes)


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