Folha de S. Paulo


'Gullar deixa um vazio imenso', diz Michel Temer; leia repercussão

A morte do poeta Ferreira Gullar na manhã deste domingo (4), aos 86 anos, deixa o "Brasil de luto", segundo o intelectual Antônio Carlos Secchin, organizador de "Poesia Completa, Teatro e Prosa", do escritor maranhense.

Isso porque "Gullar é imenso", segundo a editora Maria Amélia Mello, que trabalhou com as obras de Ferreira Gullar na José Olympio no passado e, agora, na Autêntica. Maria Amélia, inclusive, trabalhava com Gullar na edição de uma coletânea de artigos sobre artes do poeta, a ser lançada em 2017.

O legado de Ferreira Gullar é uma obra "sólida, inovadora, forte e, ao mesmo tempo, acessível, nada hermética", comenta a romancista Nélida Piñon, colega do poeta na Academia Brasileira de Letras —Gullar completaria dois anos de imortal na segunda (5).

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Michel Temer, presidente da República, no Twitter

"Ferreira Gullar deixa um vazio imenso na literatura nacional. Perdemos um poeta de primeira grandeza."

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Roberto Freire, ministro da Cultura, no Twitter

"Grande tristeza. Morre Ferreira Gullar, um dos maiores poetas do país. Sinto como brasileiro e amigo."

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Flavio Dino, governador do Maranhão (PC do B-MA), no Twitter

"Decreto agora luto oficial no Maranhão, em razão do falecimento de Ferreira Gullar, que nunca exilou-se daqui, como mostrou no 'Poema Sujo''

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José Sarney, ex-presidente da República, em nota

"Morre com Gullar o maior poeta brasileiro da atualidade. Ele era a referência da melhor poesia brasileira, com poemas que ficarão indeléveis na língua portuguesa. Era também o grande crítico de arte e literatura. O Maranhão, cuja marca ao longo da história é a da cultura, perde um dos seus nomes mais representativos de nossa contribuição à literatura brasileira. Estou profundamente emocionado e tomado por um sentimento de geração, que teve em Gullar um de seus pontos mais altos. Fomos amigos desde a juventude até os dias de hoje. Fui um dos mais insistentes com ele para que entrasse para a Academia Brasileira de Letras. Perco um pedaço dos melhores do meu tempo, e lamento, com grande dor, a sua morte"

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Edivaldo Holanda Júnior, prefeito de São Luís (PDT - MA), no Twitter

"Decreto luto oficial de três dias em São Luís em decorrência do falecimento do poeta e escritor ludovicense, Ferreira Gullar"

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Antônio Carlos Secchin, poeta, ensaísta e crítico literário, foi organizador de "Poesia Completa, Teatro e Prosa", de Ferreira Gullar

"Fui seu amigo pelos últimos 20 anos, durante esse tempo ele me presenteou com o privilégio de organizar sua obra para publicação e levar seu nome como candidato ao Nobel [de literatura]. É muito triste a morte de alguém com a inteligência e a vontade de viver que ele tinha. Ele fazia planos de publicação para os próximos dez anos pelo menos. Gullar deixa uma obra gigantesca ainda não publicada integralmente. Foi um artista multifacetado e um exemplo ético, sempre esteve no lugar certo. O Brasil está em luto."

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Luis Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro, em nota

"Perdemos hoje um dos principais personagens da literatura no Brasil. Ferreira Gullar nos deixou, mas marcou sua presença nesse mundo com grandes obras e feitos. Na poesia, participou de grandes momentos e foi um dos responsáveis pela criação do neoconcretismo. Imortal da Academia Brasileira de Letras, o poeta venceu inúmeros prêmios, incluindo o Jabuti pelas obras "Resmungos" e "Em alguma parte alguma". Sua trajetória de vida era refletida em sua obra que nos tocava profundamente. Para sempre essa obra viverá no coração e em livros que eternizam na impressão de suas palavras, os pensamentos de um dos maiores poetas Brasileiros."

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Maria Amélia Mello, editora, trabalhou com as obras de Ferreira Gullar na José Olympio e, agora, na Autêntica

"Ele não é só meu amigo de 30 anos: fui editora da obra dele. Estou extremamente triste. Ele costumava dizer que era 'singullar', mas, ao mesmo tempo, foi múltiplos. Se você olhar a obra de Gullar, ele estava sempre do lado certo —no rádio, na dramaturgia, nas artes. Estava sempre atuando. Perdemos um homem crítico, atento a tudo o que acontecia. Tinha opinião, era combativo, sempre foi alguém que lutou —inclusive foi exilado— mas nunca se abateu. Gullar foi imenso."

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Antonio Cicero, poeta, crítico literário, ensaísta, filósofo e compositor

"Eu já admirava Ferreira Gullar imensamente desde que li 'A Luta Corporal', um livro que ele escreveu na juventude dele e que influenciou a minha. Depois, excetuando o período em que ele, tendo submetido sua poesia a intenções políticas, escreveu poemas de cordel, admirei as diversas fases de sua obra. Estão entre os melhores livros de poesia brasileira as obras 'Dentro da Noite Veloz', 'Poema Sujo', 'Na Vertigem do Dia' e 'Em Alguma Parte Alguma', por exemplo. E o admirei também como o autor do 'Manifesto Neo-Concreto', que teve uma influência imensa sobre alguns dos maiores artistas plásticos da época, como Lygia Clark e Helio Oiticica. Há alguns anos, tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente. Ficamos amigos. Era maravilhoso conversar com ele. E ele me apoiou vigorosamente, quando, há poucos dias, candidatei-me a uma cadeira na ABL."

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Nélida Piñon, romancista e imortal da Academia Brasileira de Letras

"Uma vez, depois de tomar posse na Academia [em 2014], Gullar me disse: 'Eu imaginei que os imortais fossem não fossem tão legais'. Eu respondi: 'Ô Gullar, você acha que somos trogloditas? Somos a elite intelectual do país'. A morte de Gullar é uma grande perda porque ele estava vital, criador. Ele deixa o que se convenciona dizer 'obra', mas nem todo mundo deixa de verdade uma obra. Ele deixou uma sólida, forte, inovadora e, ao mesmo tempo, acessível, nada hermética. Quando ele aborda questões públicas, humanitárias, sempre o faz de maneira poética. Além do mais, ele reflete em sua poesia, de forma soberana, o sofrimento que conheceu em vida. Viveu de perto a problemática brasileira. Foi uma perda real, não só para a Academia, mas para o Brasil, pois ele ainda teria muito a nos dar. Deixa uma herança de alto nível."

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Eucanaã Ferraz, poeta

"Foi um autor que li desde sempre. Como ele tem diferentes facetas, sua poesia tem diferentes momentos e, com isso, Gullar tem diferentes lições a dar. São lições permanentes. Sobretudo gosto de uma sobre aquilo que ele dizia sempre: 'A poesia nasce do espanto'. Admiro a relação da poesia com a vida dele, com os acontecimentos, com os fatos. Ele nunca tomou a poesia como uma atividade estritamente do pensamento, intelectual; a poesia nascia, sobretudo, de uma relação de urgente com o dia a dia."

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Aracy Amaral, crítica de arte

"Eu o conheci na segunda Bienal. Ele era um discípulo do [crítico de arte] Mário Pedrosa e foi atuante sobretudo nos anos 1950, enquanto escrevia para o 'Jornal do Brasil'. Ferreira Gullar foi o grande teórico do neoconcretismo, movimento ao qual alguma forma ele nunca deixou de ser fiel. Foi crucial na polêmica discussão com os irmãos Campos. Depois, ele parou de acompanhar a arte contemporânea; ele era o homem do momento no fim dos anos 1950.

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Leonel Kaz, professor de cultura brasileira da PUC-Rio, crítico de arte e editor

"A função da arte é provocar e o Gullar era um provocador. Ele tinha um vigor imenso para a crítica e a polêmica. Ele se nutria dessa força. Gullar tinha a capacidade de mudar de ideias pela ação da vida e do tempo, estava em constante evolução. Possuía uma atualidade e um frescor de pensamento que muitos jovens não têm mais. Sua vida pulsante me fazia muito bem. Ele tinha sempre a palavra pronta para sair da boca. Acredito que Gullar procurava, na arte, dar sentido ao não-sentido das coisas."

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Lorenzo Mammì, crítico de arte

"A grande contribuição dele foi na década de 1950, começo de 1960, quando produziu um pensamento teórico que fazia mediação de gerações de artistas. Era uma figura central em um momento crucial."

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Fernando Gabeira, jornalista e político, no Twitter

"Morreu Ferreira Gullar, amigo, grande maranhense, grande brasileiro."

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Adriana Calcanhotto, cantora e compositora, no Facebook

"Até já, querido poeta."


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