Folha de S. Paulo


Após hiato de quase dez anos, 'Gilmore Girls' retorna pela Netflix nesta sexta

Amy Sherman-Palladino é como aquela tia cinquentona excêntrica que causa alvoroço em reuniões familiares com ideias progressistas e roupas que parecem não pertencer a esse século.

Sua língua afiada está por trás da metralhadora verborrágica de "Gilmore Girls", série cultuada que retorna à vida na Netflix, nesta sexta (25), quase dez anos após seu "último capítulo".

Ela criou "Gilmore Girls" em 2000 –seu marido, Daniel Palladino, se juntou ao projeto como roteirista e diretor do programa, que aborda a relação entre uma mãe e sua filha na pequena (e fictícia) cidade de Stars Hollow.

Lorelai (Lauren Graham) e sua filha, Rory (Alexis Bledel), discutiam cultura pop como poucas séries faziam então –e, claro, tinham sua cota de problemas românticos.

Tudo embalado no slogan "A vida é curta. Fale rápido", que adiantava os diálogos precisos e velozes da série.

A série nunca foi um enorme sucesso de audiência, mas se manteve forte entre o público jovem feminino.

Isso até Amy Sherman-Palladino anunciar, em 2006, que não voltaria para sétima temporada. Ela não aceitou o contrato oferecido pela Warner e preferiu deixar o programa, mesmo tendo o final inteiro planejado –com as aguardadas quatro palavras finais que nunca foram ao ar.

Com David Rosenthal à frente, "Gilmore Girls" durou só mais uma temporada e, finalmente, terminou em 2007.

"Não éramos 'Jornada nas Estrelas' para pensar em filmes ou novas séries", diz Daniel, acerca dos boatos recorrentes sobre a ressurreição da trama no cinema. "Achávamos que era isso, ponto."

Até que, no ano passado, a Netflix chegou a um acordo com Amy para reviver a série.

Mas não num simples retorno: "Gilmore Girls - Um Ano Para Recordar" virou uma minissérie de quatro episódios de 90 minutos, cada um numa estação de um ano. "Não queria me repetir", diz Amy. "Uma minissérie com pequenos filmes é o perfeito amálgama de TV e cinema."

"Não havia Netflix naquela época. Quando surgiu, pensamos que seria interessante brincar com outros formatos. É o veículo apropriado para nós", afirma ela.

A criadora conta que, depois de apertar a mão dos executivos da Netflix, não teve muito tempo para pensar no revival. "Só teríamos o cenário de Stars Hollow, no terreno da Warner, por dois meses, porque ele ia ser usado na gravação de outra série. Precisei correr e, acredite, não foi fácil", confessa ela.

Ainda que tenham se passado nove anos desde o último episódio, não espere uma atualização radical.

"Conhecemos muitas cidadezinhas nos EUA que não têm pessoas tirando selfies ou comentando sobre redes sociais on-line", diz Daniel.

Uma mudança inevitável, contudo, foi a espinha dorsal do drama, agora centrada na morte do patriarca dos Gilmore, Richard (Edward Herrmann, que morreu em 2014).

Lorelai ainda é dona da pousada, e Rory seguiu o sonho de virar jornalista, apesar de sofrer com a crise da profissão. Nos quatro episódios, elas se reúnem para os costumeiros cafés e para as conversas com citações pop.

"Algumas adolescentes que viram 'Gilmore Girls' na época, agora assistirão à série como mães. Teremos um novo público e um público antigo com um diferente ponto de vista", acredita Amy.

"Por incrível que pareça, tudo aconteceu da maneira certa, apesar de todo esse tempo. Temos muito mais carinho das pessoas hoje."


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