Folha de S. Paulo


Novo secretário da Cultura, André Sturm dialoga com tucanos e petistas

André Sturm tem trânsito. O cineasta será anunciado nesta quinta (24) como o secretário de Cultura do prefeito eleito João Doria (PSDB), numa escolha que parece agradar de haddadistas a ex-tucanos.

Assina embaixo da nomeação do diretor do MIS (Museu da Imagem e do Som) e dono do Caixa Belas Artes, por exemplo, o vereador Andrea Matarazzo –ex-secretário estadual da Cultura, hoje no PSD.

"Dou parabéns ao prefeito pela escolha, belíssima. Deve ser a primeira vez que digo essa frase", diz um bem-humorado Matarazzo. Ele deixou o PSDB após acusar Doria de fraudes nas prévias do partido que o definiram como candidato tucano –e concorreu como vice na chapa de Marta Suplicy (PMDB).

Quando Matarazzo foi secretário estadual de Cultura, Sturm foi coordenador de Fomento e Difusão, entre 2007 e 2011. No cargo, era responsável pelo ProAC, a lei paulista de incentivo à cultura. Também levou a Virada Cultural a cidades do interior.

Karime Xavier/Folhapress
O administrador André Sturm, novo secretário de Cultura, com tabuleiro 3D de xadrez
O administrador André Sturm, novo secretário de Cultura, com tabuleiro 3D de xadrez

BLOCKBUSTER

E foi o ex-tucano quem indicou o cineasta para a diretoria do MIS, em 2011. Sua gestão é reconhecida por atrair público ao museu rodeado por mansões na avenida Europa, endereço nobre da capital.

Exposições blockbuster fizeram do museu estadual o segundo mais visitado de São Paulo. Com verba pública de R$ 13 milhões para 2016, o MIS gerou R$ 2,5 milhões com bilheteria e cessão dos espaços (restaurante, livraria) no primeiro trimestre.

Retrospectivas com memorabilia e itens pessoais de Stanley Kubrick e David Bowie levaram 80 mil visitantes cada ao local.

A reconstituição do cenário e da história do "Castelo Rá-Tim-Bum", em 2014, detém o recorde de público do museu: 410 mil. A expectativa é que o número seja alcançado por "Silvio Santos Vem Aí", a partir de 7 de dezembro.

O MIS, sob André Sturm, já foi questionado por artistas –que promoveram abaixo-assinados contra a entrega do espaço, antes visto como vanguardista, aos "interesses do mercado"– e por moradores dos Jardins, que reclamaram das quilométricas filas nas calçadas para as exposições e das festas ao ar livre que rolavam no local.

Outras petições, porém, já lhe foram mais simpáticas. Em 2011, cem mil apoiadores assinaram um documento pedindo a manutenção do Cine Belas Artes, após Sturm e seus sócios encerrarem as atividades por não conseguirem renegociar o aluguel do prédio.

Fernando Meirelles, sócio do novo secretário no Belas Artes, conta que foi Sturm quem não "jogou a toalha". "Ele não tem preguiça e sabe navegar nas agências, secretarias, sindicatos e ministérios. A experiência no MIS deve tê-lo aparelhado para pilotar museus e patrimônio cultural."

O Belas Artes reabriu em 2014 com patrocínio de R$ 1,8 milhão anual da Caixa Econômica, conquistado no governo de Dilma Rousseff (PT) com o meio de campo de Juca Ferreira, também petista, então secretário de Cultura de Fernando Haddad.

"Era importante para a cidade, um patrimônio afetivo", afirma o ex-ministro da Cultura. "A Caixa também precisava ampliar sua presença na cidade. Para qualquer empresa, se aproximar de um empreendimento que começa com esse nível [de popularidade] é muito bom."

PERIFERIA E CENTRO

O futuro secretário, na memória de Ferreira, "é habilidoso e de fácil trato" e "tem tudo para dar certo, se tiver lucidez da complexidade que é dirigir a Cultura de uma cidade como São Paulo".

Equilibrar o xadrez da Cultura exigirá traquejo político do administrador de empresas, formado pela Fundação Getúlio Vargas, que nunca atuou em partidos.

Sturm terá um orçamento restrito –este ano, ele foi estimado em R$ 501 milhões, 2% do total do município.

Também precisará atender às demandas culturais da periferia (falta regulamentar a Lei de Fomento às Periferias, sancionada neste ano), onde é preciso resgatar as Casas de Cultura, além de encarar problemas no centro, como a crise no Theatro Municipal, com um rombo milionário investigado em uma CPI.

E dar continuidade a iniciativas da gestão Haddad, como a organização do Carnaval de rua e a criação da Spcine, empresa municipal de fomento, distribuição e exibição audiovisual.

A amigos, Sturm tem dito que ainda avalia como readequará suas atividades após a posse. Sabe-se que ele deixará a direção do MIS, mas que deve continuar pensando na programação do Belas Artes.

A reportagem apurou que ele também deve renunciar à presidência do Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo –responsável pelo projeto Cinema do Brasil, que este ano recebeu R$ 3,09 milhões da Agência Brasileira de Promoção de Exportações para divulgar a produção nacional no exterior.


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