Folha de S. Paulo


Conversando sobre sexo e "The Affair" com Dominic West

Benjamin Norman/The New York Times
O ator Dominic West, que protagoniza 'The Affair; terceira temporada da série estreia domingo nos EUA
O ator Dominic West, que protagoniza 'The Affair; terceira temporada da série estreia domingo nos EUA

Por duas temporadas, Noah Solloway foi o castigador titular em "The Affair", série dramática da rede de TV a cabo Showtime sobre um romancista que abandona a mulher rica e vai viver com uma garçonete que está sofrendo com a morte do filho —e transforma essa experiência em um best-seller.

"É uma série que claramente lida com pessoas em situações extremas, e nesta temporada essa condição parece estar reservada ao pobre Noah, o que é obviamente muito interessante de interpretar", disse Dominic West sobre seu personagem na história. A terceira temporada estreia às 22h do domingo, no canal americano —a primeira está disponível na Netflix.

A emaranhada trama é retomada três anos depois que Noah cavalheirescamente assume a responsabilidade por um atropelamento a fim de proteger as mulheres que amava. O período que ele passou na prisão o deixou traumatizado, por conta da perseguição de um guarda que o conhece desde a infância. O pai dele acaba de morrer. E alguém o está seguindo na faculdade de Nova Jersey onde ele leciona, agora que se viu forçado a trocar a vida opulenta do passado por um posto acadêmico medíocre.

Em uma entrevista telefônica, de Londres, onde West, 47, vive quando não está gravando a série em Nova York, ele falou sobre infidelidade, redenção e o personagem mulherengo que tantos espectadores amam odiar.

Benjamin Norman/The New York Times
Dominic West é Noah Solloway em 'The Affair
Dominic West é Noah Solloway em 'The Affair'

Você se surpreendeu quando Noah decidiu assumir a culpa para proteger Helen e Alison?
Dominic West - Achei que a solução foi um truque excelente, para ser franco. O comportamento de Noah e sua aparente irracionalidade muitas vezes me incomodavam. Por isso, fiquei feliz por ele ter feito algo de nobre, que de alguma maneira pode ter servido como uma redenção. E creio que esse tenha sido o meu primeiro pensamento - "graças a Deus, ele enfim está provando ser um herói".

Um par de novos e importantes personagens foram acrescentados à trama, a começar pela atriz francesa Irène Jacob como Juliette. Ela servirá como par romântico para Noah?
Sim, com certeza. Noah tem um romance com essa bela francesa que, suponho, represente algo completamente fora de seu universo. Ela é professora de literatura medieval e a ideia de amor cortês é, creio, muito importante para Sarah (Treem, a criadora da série), como contraste para o que vem acontecendo nos Estados Unidos em termos de política sexual nos campi, consentimento, e o conceito pós-internet do que intimidade e relacionamento querem dizer.

E quanto a Brendan Fraser, que interpreta Gunther, o ameaçador guarda penitenciário?
Creio que Sarah estava lendo muito Jung, porque outro dos temas importantes é a ideia de um duplo, de uma sombra, e o conceito de que se não encontramos alguma forma de síntese com nosso lado escuro, algo de terrível acontece. Portanto, Gunther é de alguma maneira o doppelganger de Noah. Os dois eram amigos quando crianças, e havia ciúme e rivalidade. O personagem dele agora está por cima, e coloca Noah na solitária, onde este precisa enfrentar seus demônios. E isso conduz Noah a uma espécie de território imaginário, o que leva o espectador a não ter certeza do que é real e do que é inventado, à medida que a série avança.

Em sua opinião, por que a série é tão polarizadora?
Ela é deliberadamente provocadora. Deliberadamente melodramática. Não há momentos em que pelo menos seis coisas não estejam acontecendo na cabeça do protagonista, todas elas mentalmente extremas e traumáticas. E muitos dos personagens não se comportam necessariamente de maneira compreensiva, o que é deliberado da parte de Sarah, porque ela está interessada em conduzi-los em uma jornada na qual eles encontrem redenção e superem suas limitações. E eu realmente não tenho objeções a isso, ainda que não goste pessoalmente desse tipo de comportamento.

Qual é a sua opinião pessoal sobre infidelidade?
É um tópico extraordinariamente quente, e todo mundo tem posições muito fortes a respeito, o que o torna uma ótima premissa para uma série de TV. O que eu não queria que acontecesse, e acho que não aconteceu, é que a trama se tornasse uma parábola moral com uma conclusão do tipo "garotada, não tenham um caso, porque, se tiverem, vocês vão acabar matando alguém e terminarão na cadeia com Brendan Fraser" [risos].

Com toda a discussão sobre impropriedades sexuais e infidelidade que ouvimos na campanha presidencial, fico imaginando se você considera qualquer das duas coisas como desqualificadora para alguém que esteja disputando um posto de liderança.
Se considero desqualificador que um candidato à presidência fale sobre apalpar mulheres contra a vontade delas? Sim, esse é um dos mais sérios e evidentes fatores de desqualificação para um candidato à presidência. Mas a coisa pavorosa é que a maioria das pessoas não sente a mesma coisa que eu a esse respeito.

Muitos casais assistem a "The Affair" juntos. Você assiste aos episódios com sua mulher?
Com certeza não! Não consigo assistir ao meu trabalho por muito tempo sem ficar enojado e correr a desligar a TV. E minha mulher assiste a alguns trechos e diz "nossa, muito bem feito, lindo, mas não quero assistir mais".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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