Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Se acerta como retrato, 'Sob Pressão' falha como cinema

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O maior mérito de "Sob Pressão", novo longa de Andrucha Waddington, é que passa depressa, tamanho o drama e a tensão do que vemos na tela. Há certa habilidade na narração, na condução dos atores e na fidelidade ao que promete o título.

Júlio Andrade é Evandro, cirurgião que trabalha num hospital público do Rio e comanda a unidade que recebe vítimas da guerra do tráfico. Como o movimento é intenso e ele é obcecado em salvar vidas, acaba recorrendo a drogas para se manter acordado.

Por essas e outras, a unidade não é bem vista pela diretora do hospital, Ana Lúcia (Andrea Beltrão), mas é defendida pelo administrador Samuel (Stepan Nercessian). Evandro conta com a ajuda do velho amigo Paulo (Ícaro Silva) e de uma nova cirurgiã, Carolina (Marjorie Estiano).

O filme se apoia em inúmeros clichês, quase sempre usados sem muita imaginação. Emprega-se o atalho sem que este leve a algum lugar, ou ao menos promova um enriquecimento da trama.

Como outros recursos, clichês podem ser bem ou mal usados. Ma o filme dá a ideia de que recorrer a eles é o único caminho para se chegar ao grande público. Não é.

O clichê usado simplesmente como muleta não engana mais ninguém. É necessário partir do clichê para chegar a algo diferente, e essa segunda operação está ausente em "Sob Pressão".

Na ideia que rege o filme, é necessário, por exemplo, que exista um romance. Como Evandro, o protagonista, é quase um zumbi, o romance acontece entre Paulo e Carolina, levando a uma cena de sexo igual às de milhares de outros filmes.

É assim que acompanhamos um dia de trabalho num hospital público. Como retrato da falência do Rio de Janeiro e da saúde pública, o filme vai até bem. Como cinema, é um amontoado de situações dramáticas já muito (e melhor) vistas.

SOB PRESSÃO
DIREÇÃO Andrucha Waddington
ELENCO Júlio Andrade, Andréa Beltrão, Stepan Nercessian
PRODUÇÃO Brasil, 2016


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