Folha de S. Paulo


Leda Catunda retrata o amor na era do selfie e das redes sociais

Leda Catunda anda vidrada na tela do celular. Suas pinturas e colagens mais novas, agora em exposição no Instituto Tomie Ohtake, são a tradução visual de um universo de curtidas nas redes sociais, gostosas na balada, belas paisagens e anúncios pop-up vendendo motos, ovos, aspirinas e calcinhas.

No fundo, a artista que despontou na década de 1980, marcada pela onda de retorno à pintura, construiu nos últimos anos um estudo da paisagem contemporânea.

Mas, em vez de cidades, Catunda retrata a miopia de um mundo narcísico, inebriado por "likes", que se afirma por marcas e objetos de desejo.

Divulgação
Faixas', colagem de Leda Catunda agora no Tomie Ohtake
'Faixas', colagem de Leda Catunda agora no Tomie Ohtake

"Desde sempre meu trabalho funciona com apropriação de imagens, com o que eu vejo na rua", diz Catunda. "Mas a gente fica pensando em paisagens quando, na verdade, vivemos fechados no computador comprando coisas."

É o que ela chama de "consumo afetivo", ou seja, a construção de uma identidade moldada pelo poder de alcance do cartão de crédito e milhas acumuladas –nesse sentido, sexo e compras andam juntos.

"Escrevi sexo e romance no Google e vêm aquelas fotos com as pessoas meio peladas, superfortes, supergostosas", diz a artista. "Sinto essa necessidade do personagem do Facebook e do Instagram mostrar que está apaixonado, que está pegando, amando, viajando, comendo coisas incríveis."

"Mar Linda", uma das colagens da mostra, retrata um desses personagens, uma garota que "arrasa no look" quando vai à boate. Outro trabalho mostra um casal se beijando rodeado de etiquetas arrancadas de roupas, sugerindo uma relação de grife, precificada e artificial.

Em cores estridentes, Catunda retrata a circulação histérica dessas imagens, mas não abandona as formas ameboides, meio vegetais, que sempre marcaram sua obra. Seu espelho do real parece se apegar à natureza para escancarar seu sumiço das relações amorosas na era do selfie.

LEDA CATUNDA
QUANDO de ter. a dom., das 11h às 20h; até 15/1/2017
ONDE Instituto Tomie Ohtake, r. Coropés, 88, tel. (11) 2245-1900
QUANTO grátis


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