Folha de S. Paulo


'Pequeno Segredo' se arrisca no sentimentalismo para ir ao Oscar

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O diretor David Schurmann não larga mão das metáforas náuticas: ele as despeja por todo "Pequeno Segredo", que estreou nesta quinta (10), e quando comenta a controvérsia da qual seu longa é fonte desde que foi o escolhido pelo Brasil para representar o país no Oscar.

"Criou-se essa onda toda e a gente entrou de carona sem querer", afirma. "Só que depois que a tempestade passa, você anda mais rápido."

O diretor tem corrido os EUA para promover o filme, história autobiográfica sobre a adoção da garota Kat por seus pais, os velejadores Schurmann. A lista de indicados sai em 24 de janeiro.

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Cena do filme 'Pequeno Segredo
Cena do filme 'Pequeno Segredo'

A tempestade a que se refere foi todo o tumulto criado após o anúncio, em setembro, de que "Pequeno Segredo" desbancou o favorito "Aquarius" nos votos da comissão do Ministério da Cultura que elegeu a produção brasileira com "mais cara de Oscar".

Boa parte da classe cinematográfica se insurgiu contra a escolha e viu sinal de ingerência política, já que o filme de Kleber Mendonça Filho acabou se tornando um libelo contra o impeachment de Dilma. A polêmica, que ganhou espaço em publicações como a revista "Variety" e o jornal "The New York Times", foi antecipada pela Folha.

"A classe artística, que tanto reclama de reacionários, estava se tornando reacionária", afirma o diretor. "Como é que tratam com preconceito e fazem bullying com um filme que nem tinham visto?"

Schurmann diz que tentaram lhe "arrastar para um ringue" contra Kleber. "O filme dele tem outra linguagem. Temos que somar. Divisão magoa todo mundo", diz o diretor, que afirma ter visto "Aquarius" em Cannes, "chorando e batendo palmas".

'OCEANO DE CLICHÊS'

"Pequeno Segredo" intercala três tramas: a do envolvimento entre os pais naturais de Kat (Erroll Shand e Maria Flor) no Pará; sua posterior adoção pelos Schurmann (cujos patriarcas são vividos por Marcello Antony e Julia Lemmertz); e os entraves postos pela avó paterna da menina (Fionnula Flanagan), na Nova Zelândia.

A crítica malhou o retrato tido como piegas da menina que "viveu intensamente como uma borboleta", segundo descreve o longa. "É um oceano de clichês e sentimentalismo", escreveu o crítico Alcino Leite Neto, que avaliou o filme como ruim nesta Folha.

Schurmann diz que não ficou ressentido. Diz que está concentrado em desembolsar cerca de US$ 250 mil (cerca de R$ 844 mil),com seu produtor e financiadores privados, para fazer lobby do filme.

Contratou Steven Raphael, estrategista de "O Labirinto do Fauno" e "Mar Adentro", que tem armado projeções em Los Angeles.

O diretor aposta que a Academia vai se comover. "O mundo está precisando de esperança. E o filme tem leveza, é uma mensagem de amor."

Outros países pensam bem diferente. As maiores apostas trazem só histórias pesadas.

O francês "Elle" começa com uma cena de estupro; o chileno "Neruda" mostra a perseguição ao poeta durante a ditadura; e o documentário italiano "Fogo no Mar" não poupa imagens de corpos para denunciar a tragédia humanitária dos refugiados.


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