Folha de S. Paulo


Warner Bros. prospera discretamente, mas críticas ofuscam êxito financeiro

Por trás dos muros beges que protegem o complexo de estúdios da Warner Bros. em Los Angeles, Kevin Tsujihara vem remoendo a questão de percepção vs. realidade –um tema clássico de Hollywood nas telas, mas que seu estúdio vem enfrentando na vida real.

Tsujihara, presidente-executivo da Warner Bros., vai gerar lucros recorde para seu estúdio neste ano, e a divisão cinematográfica tem o papel principal. Na semana passada, a Time Warner anunciou que essa divisão –que produz os filmes de Batman, os projetos de Clint Eastwood, os desenhos do Pernalonga, o seriado "The Middle" e o site de fofocas TMZ.com– lucrou US$ 433 milhões, 12% a mais que no ano anterior. A HBO, outra divisão do mesmo grupo, teve lucro de US$ 530 milhões, mas o crescimento obtido foi de apenas 2%.

No entanto, muita gente vê a Warner Bros. como operação problemática, uma ideia que Tsujihara acredita derivar de uma subestimativa das diversificadas atividades do estúdio, e dos efeitos persistentes de problemas de produção que a unidade já deixou para trás.

"Discretamente, estamos vivendo um ano maravilhoso", ele disse. "Mas a narrativa em geral não reflete o fato".

A Warner Bros. fica à sombra da HBO, muito elogiada pela mídia noticiosa e benquista por Wall Street. Quando a AT&T chegou a um acordo para adquirir a Time Warner por US$ 85 bilhões, no mês passado, a Warner Bros. não passou de uma nota de pé de página na análise envolvida –ainda que o estúdio, entre outras coisas, tenha serviços promissores de vídeo stream envolvendo Harry Potter e Batman, e que eles possam ser explorados mais a fundo pela companhia de telecomunicações.

Como Tsujihara corrigiria a narrativa, então?

A maneira mais segura é produzir um filme de grande sucesso, e a divisão de filmes do estúdio pode ter essa carta na manga com "Fantastic Beasts and Where to Find Them". A produção de US$ 180 milhões (sem contar os US$ 150 milhões da campanha mundial de marketing) chega aos cinemas em 18 de novembro e expande o universo de Harry Potter, da escritora J. K. Rowling. Ela escreveu o roteiro do filme, e no mês passado anunciou que ele teria quatro continuações, notícia que entusiasmou os fãs.

As críticas de "Fantastic Beasts and Where to Find Them" ainda não saíram, mas muita gente (o que me inclui) ficou deslumbrada ao assistir prévias. A história se passa em Nova York na década de 1920 e tem por centro o excêntrico "magizoólogo" Newt Scamander. A projeção é de que o filme possa atingir bilheteria de US$ 70 milhões ou mais em seus três primeiros dias de exibição nos Estados Unidos, de acordo com analistas.

E novos sucessos podem vir a seguir. Ao longo do ano que vem, a Warner Bros. vai lançar "Mulher Maravilha", "Kong: Skull Island", "Liga da Justiça", o épico de guerra "Dunkirk", de Christopher Nolan, e dois filmes de animação da Lego. Entre esses gigantes, há produções de baixo orçamento da New Line Cinema, uma subunidade da Warner Bros., como o filme de terror "Annabelle 2".

Quando o assunto é redefinir a Warner Bros. como uma operação bem azeitada, que é a visão dele sobre o negócio, Tsujihara também sabe que o estúdio precisa trabalhar melhor ao contar sua história. Os executivos da Warner tendem a se esconder por trás dos muros beges, e isso permite que outros em Hollywood –especialmente pessoas que deixaram o estúdio em circunstâncias desagradáveis– falem em lugar deles, às vezes contribuindo para uma cobertura bastante negativa do estúdio pela imprensa.

Este ano, por exemplo, alguns repórteres e blogueiros se divertiram muito em criticar a Warner Bros. pela resposta crítica desfavorável a "Batman vs. Superman - A Origem da Justiça" e "Esquadrão Suicida". O que as críticas não levaram em conta, acreditam Tsujihara e sua equipe executiva, é o sucesso financeiro dos filmes. "Batman vs. Superman - A Origem da Justiça" e "Esquadrão Suicida" arrecadaram, somados, mais de US$ 1,6 bilhão nas bilheterias do planeta.

E o sucesso de bilheteria de "Sully - O Herói do Rio Hudson" e diversos outros filmes de orçamento modesto mas muito bem divulgados lançados pela New Line este ano –"Um Espião e Meio", "Quando as Luzes se Apagam", "Invocação do Mal 2"– colocam o estúdio no caminho de um dos períodos mais lucrativos de sua história. Em um momento no qual rivais menores como a Paramount Picture e a Sony Pictures Entertainment estão enfrentando dificuldades, a Warner Bros. se sente frustrada por o seu sucesso financeiro não atrair muita atenção.

"As pessoas desconsideram nossa consistência", disse Tsujihara.

Mas e quanto às críticas desfavoráveis aos filmes de super-heróis? Os analistas se preocupam que o impacto de filmes menos que satisfatórios, a exemplo de "Batman vs. Superman - A Origem da Justiça", possa ser sentido mais adiante, talvez quando os consumidores tiverem de decidir se vale a pena gastar seu dinheiro com "Liga da Justiça".

Tsujihara diz estar confiante em que as mudanças de comando que está promovendo (apontar a dupla de executivos Geoff Johns e Jon Berg para o comando dos filmes de super-heróis, por exemplo) criará mais satisfação para os fãs. Com alguma sorte, um crítico ou dois podem mudar de opinião. "O que me deixa confiante é que assisti a 'Mulher Maravilha', e é excelente", disse Tsujihara.

O estúdio produz quase 80 séries de televisão, entre as quais "Westworld", para a HBO, e "The Big Bang Theory", para a CBS. A Warner tem dez séries em cartaz nesta temporada que se baseiam em heróis da DC Comics. Elas sozinhas geram mais de US$ 1 bilhão por ano em receita, de acordo com a Time Warner.

A Warner Bros. também é uma das maiores produtoras mundiais de videogames, respondendo por títulos como "Mortal Kombat" e "Lego Dimensions". Enquanto a maioria de seus rivais –por exemplo a Disney– enfrentam dificuldades para desenvolver operações de videogame duradouras, a Warner Bros. Interactive Entertainment cresceu a ponto de cobrir momentos de desempenho mais fraco por outras unidades do grupo, como aconteceu no ano passado com o fracasso de bilheteria de filmes como "Peter Pan" e "O Destino de Júpiter".

O estúdio vem ganhando força no segmento digital, e formou em junho uma nova divisão para gerir investimentos em redes online como a Machinima (dedicada aos games) e Uninterrupted (aos atletas profissionais), enquanto acelera o lançamento de serviços semelhantes aos da Netflix dedicados aos super-heróis e, talvez, Harry Potter. "A combinação com a AT&T permitirá que cheguemos diretamente ao consumidor ainda mais rápido, com marcas como a DC", disse Tsujihara.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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