Folha de S. Paulo


Arquitetura da nova sede do IMS se firma pela ideia de leveza

Numa ponta da avenida Paulista, o novo Instituto Moreira Salles terá no desenho um eco do Conjunto Nacional não muito longe dali –a ideia de total abertura ao espaço público numa quase continuação da calçada para dentro do prédio.

Escadas rolantes levam visitantes direto a um andar intermediário onde será o saguão, uma espécie de praça suspensa e envidraçada com a função de tornar mais ágil a circulação por dentro da torre de nove andares.

"É muito difícil fazer um museu vertical", diz Vinicius Andrade, da firma Andrade Morettin Arquitetos, responsável pelo projeto. "Um museu depende de um fluxo contínuo. Se você parte de uma das extremidades, a outra fica muito distante, então a gente decidiu começar pelo meio e quem chega ali anda um pouco para cima e um pouco para baixo."

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Futura sede do Instituto Moreira Salles, desenhada pela firma Andrade e Morettin. Credito: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Futura sede do Instituto Moreira Salles, desenhada pela firma Andrade e Morettin

Quem sobe encontra as três galerias dedicadas às mostras temporárias, grande parte delas de fotografia, carro-chefe do acervo da instituição com direção artística de Lorenzo Mammì. Quem desce chega ao auditório e à biblioteca. Do lado de fora, esses conjuntos de salas parecem flutuar como caixas fechadas numa embalagem translúcida, já que a fachada do IMS será toda de vidro.

Nesse sentido, o desenho dos arquitetos se esforça para dar a sensação de leveza, suavidade e transparência ao que poderia despontar como mais um monolito na paisagem saturada da Paulista.

Também reforça a sensação de espaço público, permeável ao entorno do prédio. Tal qual um respiro, ou intervalo entre um e outro evento, o Balaio, novo café dos donos do restaurante Mocotó, vai funcionar no saguão entre as galerias e o auditório, ou seja, acessível direto da calçada pela escada rolante, sem obstáculos.

"Tem pouca matéria, traços menos definitivos", diz Andrade. "É uma arquitetura leve. A gente trabalha para desmistificar a síndrome dos três porquinhos, a ideia de que se não for de tijolo não é legal. A preocupação é com a fluidez do espaço público. Isso é muito valioso."

Num terreno com um dos metros quadrados mais caros da cidade, essa também não é uma construção modesta –sem uso de recursos incentivados, a obra custou até agora R$ 80 milhões.

Mais vistoso dos projetos do Andrade e Morettin, o novo museu entra na reta final da obra na esteira do lançamento de um livro que destrincha toda a produção da dupla de arquitetos, que estão entre os mais criativos e relevantes da nova geração da arquitetura paulista.

O volume, aliás, tenta explicar por que o escritório que rejeita o uso de concreto aparente, material-fetiche na tradição do modernismo local, se enquadra nessa mesma linha de raciocínio, em especial pelo uso de estruturas desnudadas, sempre à vista.

"Nossa vontade era mostrar mais do que a beleza do objeto", diz Andrade. "É a beleza do raciocínio."

ANDRADE MORETTIN - CADERNOS DE ARQUITETURA
AUTOR Marcelo Morettin, Vinicius Andrade
EDITORA Bei
QUANTO R$ 120 (208 págs.)


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