Folha de S. Paulo


Ato por vítimas chega à metade com drama de Bárbara Paz e Helena Ignez

No início da noite desta terça, o músico Paulo Miklos fez uma leitura sóbria da lista dos 111 mortos no massacre do Carandiru, contrastando com as atuações eufóricas das atrizes Bárbara Paz e Helena Ignez, que vieram depois, fechando a primeira metade da vigília-performance idealizada pelo artista plástico Nuno Ramos.

O ato, transmitido ao vivo pela internet, foi organizado para relembrar a tragédia de 24 anos atrás e protestar contra a anulação do julgamento que havia condenado 74 policiais militares pela chacina.

Miklos leu os nomes um a um ao longo de uma hora, como todos os convidados, mas não alterou seu tom de voz nem fez nenhum tipo de improvisação. Mais contido também que seus antecessores —o dramaturgo Zé Celso, o escritor Ferréz, o idealizador do ato e o ativista Luambo Pitchou—, o músico leu de modo pausado e tranquilo a lista de mortos.

Na saída do apartamento onde ocorre a performance, Miklos disse ter enxergado força maior na repetição dos nomes. "A simples leitura dá individualidade a esses nomes", afirmou. "Essa repetição é como estar contando uma longa história. Senti como se estivesse dizendo muita coisa."

Toda de preto, a atriz Bárbara Paz veio logo depois de Miklos. Sua performance, no entanto, teve enorme contraste com a do músico. Ela urrava alguns nomes, dava tapas na mesa e levantava o indicador ao gritar, às vezes rosnando até perder o fôlego.

"Foi muito forte, fiquei com vontade de dar um berro", disse a atriz. "Enquanto eu falava, sentia o universo nas minhas costas. Pensava em cada família que teve sua vida arruinada por isso."

Mais contida, mas não menos dramática, a atriz e cineasta Helena Ignez também fez uma leitura mais autoral da lista de mortos. Ela sussurrava alguns nomes, chegando só a mexer os lábios sem emitir nenhum som, para de repente gritar alguns deles em disparada, lembrando uma espécie de xamã.

Último leitor da noite de terça, a cartunista Laerte foi mais sóbria na performance, voltando ao tom de relatório adotado por Paulo Miklos. Na manhã desta quarta, estão escalados para o ato o apresentador Marcelo Tas, o professor e ex-secretário da Cultura paulistano Carlos Augusto Calil, o crítico de cinema Jean-Claude Bernardet, a cineasta Marina Person e a cantora Rita Cadillac, entre outros.


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