Folha de S. Paulo


Zé Celso e Ferréz abrem vigília de Nuno Ramos por vítimas do Carandiru

Na varanda de um apartamento no penúltimo andar de um prédio no centro paulistano, Zé Celso gesticulava e olhava o céu ao ler os nomes dos 111 detentos assassinados pela Polícia Militar no episódio que ficou conhecido como massacre do Carandiru há 24 anos.

O ator e dramaturgo abriu a vigília de 24 horas organizada pelo artista plástico Nuno Ramos em memória dos que perderam a vida na chacina, em protesto contra a decisão da Justiça de anular a condenação de 74 policiais acusados das mortes.

Ele alternava o tom e o ritmo na leitura dos nomes, às vezes quase cantando e enfatizando alguns deles que mais se repetiam.

"Tem muitos da Silva, como o Lula, tem muitos santos também, muitos Clemente, Jorge, Luiz", comentou Zé Celso depois de uma hora de leitura ininterrupta dos nomes. "Não são só 111 pessoas, são todos nós, são vítimas dos mocinhos, daqueles que dividem o mundo entre mocinhos e bandidos."

Zé Celso comparou ainda o massacre do Carandiru à chacina da Candelária e às matanças do Estado Islâmico, dizendo que o mundo está dominado por "uma onda nazista".

Na sequência, o escritor Ferréz tomou o lugar do dramaturgo. Ele começou sua leitura em tom relatorial, como se lesse uma lista de chamada numa sala de aula, mas logo foi acrescentando comentários aos nomes que lia.

Dizia que alguns sentem raiva, outros não se importam que os julgamentos que condenam os policiais pelo assassinato dos presos foram anulados.

Houve espaço para outras histórias, sobre o preso que "esperou tanto para que um maloqueiro lesse seu nome", o que "gostava de brincar de carrinho de rolimã", o que "estava lendo a Bíblia, estava virando gente decente".


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