Folha de S. Paulo


Estilistas da SPFW criam visuais para a primeira-dama Marcela Temer

Croquis para Marcela Temer

Um dos grandes rancores dos estilistas ditos mais importantes do país, aqueles que desfilam na São Paulo Fashion Week, sempre foi a ausência deles nos guarda-roupas de Brasília. Desde a redemocratização, chefes de Estado e primeiras-damas optam pela discrição dos cortes de costureiras ao falatório que os nomes de grife carregam consigo.

Repetindo o convite de 2011, quando chamou designers do calendário paulistano a pensarem um armário possível para a então presidente Dilma Rousseff, a Folha agora propôs para marcas e estilistas a criação de roupas para a nova moradora do Alvorada, Marcela Temer.

Lolita Hannud, Patricia Bonaldi, Reinaldo Lourenço, Renato Ratier, Samuel Cirnansck e Valdemar Iódice foram os únicos seis, de um total de 14 nomes procurados pela reportagem, que toparam o experimento. "Não falo sobre política" foi a desculpa mais usada para justificar as negativas.

É que, no caso da nova primeira-dama, a roupa não assume apenas o propósito de adorno. Desde que "limpou" sua imagem ao usar um vestido branco no desfile da Independência, em setembro, Marcela virou peça política no xadrez do marido, o presidente Michel Temer, em um jogo para "por ordem" na República.

Organização que significa, por exemplo, colocar a mulher numa cadeira figurativa do governo. O cargo de embaixadora do programa Criança Feliz foi analisado por parte da crítica como um aval de Temer à noção de que primeiras-damas devem cuidar de assuntos "femininos".

"Porque alguém tem de fazer o trabalho que resta", diz Cirnansck. Filiado ao PMDB, ele foi o único que decidiu falar sobre o espectro político da roupa. "Com o país em crise, ela não pode usar algo chamativo demais."
Sobre seu croqui, o estilista criou um vestido de noiva para "Marcela renovar os votos com o marido".

Para a maioria dos criadores entrevistados, a mídia gerada por uma foto da primeira-dama valeria o trabalho. "Pensaria na minha marca e no que ela [Marcela] precisaria vestir", afirma Patricia Bonaldi.

O estilista Valdemar Iódice, por sua vez, tem cartilha definida para uma primeira-dama: "Chique e sóbria".

"Ela tem de usar algo que caracterize o DNA dos estilistas brasileiros sem ter um apelo 'fashion' demais. Algo elegante, atemporal, mas com personalidade", diz Lolita Hannud. Ela bolou "um look inteiro de tricô que resgata o trabalho artesanal do Brasil".

O estilista Renato Ratier foi além da imaginação e criou um vestido mídi —comprimento preferido de Marcela—, ocre, que seria combinado com blazer de couro preto. Uma primeira-dama gótica.

Já Reinaldo Lourenço, íntimo dos gostos e desagrados da alta sociedade paulistana, afirma que, em vez de usar vestidinhos, a primeira-dama "poderia aderir ao smoking". "Mas ela está OK. É elegante, cumpre bem seu papel."

Mas, afinal, há um código de vestimenta obrigatório para uma primeira-dama? "Sim. O grande código é o bom senso", afirma Lourenço.


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