Folha de S. Paulo


Movimentação financeira na Rouanet passará por cartão de crédito

Um dos gargalos na gestão da Lei Rouanet está na análise de prestação de contas, disse Marcelo Calero, ministro da Cultura, à CPI da Lei Rouanet na Câmara, em sessão na manhã desta quinta (27). Para resolver o problema, o MinC deve exigir, a partir de 2017, que proponentes realizem gastos por meio de cartão de crédito, que seria ligado a conta única.

Com isso, o MinC, de acordo com o ministro, passaria a ter a descrição dos gastos na execução dos projetos em tempo real. "Não apenas o ministério, mas a sociedade também, por meio do Portal da Transparência", afirmou.

Hoje, o produtor com projeto aprovado na Rouanet trabalha com duas contas: uma bloqueada, que recebe os valores de patrocínios de empresas e pessoas físicas, e outra aberta, para onde vão os recursos após liberação do MinC.

Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados
O Ministro da Cultura Marcelo Calero em audiência pública para esclarecimentos sobre fatos relacionados ao objeto de investigação da CPI da Rouanet
O ministro da Cultura Marcelo Calero em audiência pública da CPI da Rouanet nesta quinta (27)

Essa conta liberada é utilizada para pagamentos de despesas da execução de projetos, por meio de transações como transferências bancárias. Os gastos são observados apenas na prestação de contas, após a execução do produto cultural, por meio de planilhas e notas fiscais.

Segundo o ministro, a adoção de conta única e cartão de crédito –em parceria com o Banco do Brasil– agilizaria a análise de prestação de contas que, quando assumiu a pasta, em maio de 2016, acumulava 20.654 projetos pendentes.

Parte do montante se deve à tecnologia. Prestações antigas –como aquelas até 2011, ano em que o TCU (Tribunal de Contas da União) recomendou a adoção de uma força-tarefa para analisar a contabilidade de projetos anteriores– estão em papel, o que demanda mais tempo e mais recursos humanos na análise.

Calero disse que, de 2015 para 2016, o número de conclusão de análise de prestações de contas aumentou significativamente: de 381 para 1.506. Afirmou ainda que o MinC estuda a possibilidade de contratar empresa para digitalizar documentos contábeis antigos para acelerar os trabalhos.

CONCENTRAÇÃO

Calero também afirmou que a concentração de recursos de incentivos fiscais na região sudeste não é resultado de concentração socioeconômica do país. "É consequência, não causa", diz.

Ele explica que 67,20% das empresas tributadas pelo lucro real estão no sudeste, o que leva à concentração de incentivos na região. Pelas regras atuais, somente essas empresas podem apoiar projetos culturais na Lei Rouanet.

Diante desse cenário, Calero reafirmou a necessidade de se adotar a inclusão de empresas tributadas pelo lucro presumido, conforme adiantado pela Folha em agosto. Ao abrir a possibilidade de patrocínio a empresas com tributação baseada no lucro presumido, de acordo com o ministro, a captação se pulverizaria nos outros Estados.


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