Folha de S. Paulo


Raduan Nassar faz aparição surpresa em debate com Grossman e McEwan

Adriano Vizoni/Folhapress
Ian McEwan (esq.) e David Grossman durante evento que celebrou seus 30 anos da Companhia das Letras
Ian McEwan (esq.) e David Grossman em evento que celebrou seus 30 anos da Companhia das Letras

No evento que celebrou seus 30 anos, nesta terça (25), a Companhia das Letras promoveu um encontro entre os escritores Ian McEwan e David Grossman, trazendo também leituras de atores consagrados e até uma aparição surpresa de Raduan Nassar.

No debate, mediado por Luiz Schwarcz, presidente da Companhia das Letras, McEwan disse acreditar que o propósito da literatura "é expor a si mesmo, livre, para o mundo". Ele contou que, quando instado a dar conselhos a jovens escritores, costuma dizer: "você deve escrever como se seus pais estivessem mortos".

Grossman disse que vê a escrita como uma "segunda chance" de viver um acontecimento, após falharmos nele. "A literatura pode servir como uma instância superior. Quantas vezes não contamos histórias sobre nós mesmos e as polimos para parecermos mais simpáticos?"

Em um segundo momento do debate, os autores foram convidados a elaborar perguntas um para o outro.

Primeiro, Grossman perguntou a McEwan se os livros que ele escreveu o haviam mudado enquanto ser humano. O britânico respondeu que quanto mais personagens ele criava, mais tolerância ele desenvolvia em relação a outras pessoas. "Cada vez mais [a escrita] me fez acreditar que o projeto humano merece sobreviver".

Já o autor de "Reparação" pediu ao escritor israelense que comentasse o viés humorístico do protagonista de seu mais recente livro, "O Inferno dos Outros", um comediante obsceno que foge ao politicamente correto.

"O personagem me deu a habilidade de dizer tudo o que eu quisesse," disse Grossman. "Eu acredito que há tanta liberdade no humor. Faz você deixar de ser a vítima de qualquer situação."

CONVIDADOS

Antes do debate, Luiz Schwarcz chamou ao palco a mulher, Lilia, para conceder prêmios a autores que tinham "ligação afetiva" com a história da editora.

Um deles foi o notoriamente recluso Raduan Nassar. "Comecei a ser o editor que sou quando o conheci", disse Schwarcz sobre o autor de "Lavoura Arcaica".

Nassar subiu ao palco para receber o prêmio, mas não disse palavra. O outro homenageado foi Ruy Castro, colunista da Folha, que publicou um recorde de 42 livros com a editora.

O debate foi intercalado com leituras de trechos das obras lançadas pelos dois autores. "Enclausurado", de McEwan, ficou por conta de Wagner Moura e "O Inferno dos Outros", de Grossman, a cargo de Denise Fraga.

A noite terminou com a cantora Adriana Calcanhotto interpretando poemas musicados de autores publicados pela editora –Waly Salomão, parceiro de composição de Adriana, e Vinicius de Moraes, que, segundo Schwarcz, foi o "primeiro clássico brasileiro que veio para a Companhia das Letras com sua obra completa".


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