Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Estilistas seguem criativos sem perder o tino comercial

Numa temporada em que grifes de apelo comercial deixaram de participar dos desfiles da São Paulo Fashion Week, é interessante constatar como estilistas autorais produziram coleções de alto teor criativo na mesma medida que refinaram o senso comercial de suas marcas.

A máxima de que criadores de moda têm dificuldade em agradar o grande público cai por terra em desfiles como os dos estilistas Alexandre Herchcovitch e Reinaldo Lourenço. Nomes fortes da ala conceitual do evento, ambos seguiram os códigos pelos quais ficaram conhecidos.

Em sua segunda coleção para a grife À La Garçonne, Herchcovitch exorcizou o passado recente de sua marca homônima, quando, por obrigações comerciais, engessou a tesoura numa feminilidade quase recatada –ele vendeu a grife para o grupo InBrands e se demitiu no ano passado.

Nesta coleção, ele retoma signos da moda dos anos 1990, período em que começou a desenhar e a trilhar a carreira de maior estilista do pais. Num balanço exato entre moda vintage e moderna, dualidade que é a grande tendência das passarelas internacionais, o estilista reconstrói o passado da cena underground paulistana.

As jaquetas com estampas de animais, a pegada grunge, os jeans de cintura alta combinados com releituras das camisas de futebol americano e um verde militar aplicado em macacões industriais são ingredientes de uma receita que, em mãos inexperientes, soaria datado.

Não que o ideal feminino embutido em suas coleções comerciais tenha ficado para trás, mas agora os vestidos rendados, as sainhas mídi e os florais fazem parte de um conjunto de ideias conectadas pela história de uma carreira, não pelos números que cada peça faz girar no caixa da loja.

SOB INFLUÊNCIAS

Da mesma fonte do desprendimento bebeu Reinaldo Lourenço. O estilista sabe que as jaquetas de motociclista, o rosa combinado com preto e os vestidos plissados foram sucessos de sua marca temporadas atrás, mas prefere evoluir para além de sua zona de conforto.

Lourenço vem testando formas e estampas que reverenciam culturas europeias, como as ibéricas, exploradas anteriormente. Nesta temporada, foi até a Suécia remexer códigos do folclore nórdico e do estilo das ruas de Estocolmo.

Ainda há a alfaiataria, o plissado, a calça reta e o preto com lantejoulas de que tanto gosta, mas acrescenta elementos sutis da indumentária sueca, como pequenas flores que adornam as mulheres nas festividades típicas. Lourenço trouxe referências, mas seguiu brasileiro na passarela.

Já os couros pesados, peles e vestidos com ilhoses de Patricia Viera formaram uma estética exagerada que em nada denotam nem o clima do país, tampouco a proposta leve da temporada atual.

Salvaram a coleção, porém, os vestidos cortados a laser em formas octogonais, preenchidos com brilho, e conjuntos de saia e top recortados com técnica que imita renda.

À LA GARÇONNE

REINALDO LOURENÇO

PATRICIA VIERA

Calendário Fashion Week


Endereço da página:

Links no texto: