Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Falcão diverte como o charlatão Chinês em 'O Shaolin do Sertão'

Depois de "Cine Holliúdy" (2013), filme de baixo orçamento rodado no Ceará que fez algum sucesso, Halder Gomes está de volta com outra comédia popular cheia de desbocada autenticidade, desta vez mais ambiciosa.

O protagonista é Edmilson Filho, o mesmo do longa anterior, que encarna o improvável Aluísio Li, um padeiro de Quixadá cujo grande sonho é se tornar um lutador de ares marciais. Ele se veste com supostos trajes chineses, seu quarto é decorado com cartazes de filmes de kung fu e objetos que remetem à China.

Ingênuo como os personagens de Mazzaropi e lunático como ninguém, o esquálido Li é ridicularizado por todos na cidade. Apaixonado pela bela Anésia Shirley (Bruna Hamú) –filha de Seu Zé (Dedé Santana), o dono da padaria–, ele enfrenta o namorado dela, o almofadinha Armandinho (Marcos Veras), e acaba apanhando.

Divulgação
O cantor Falcão sobre Edmilson Filho em cena do longa
O cantor Falcão sobre Edmilson Filho em cena do longa

Com o amor-próprio abalado, Li resolve provar seu valor aos conterrâneos e aceita o desafio de Toni Tora Pleura (Fábio Goulart), um musculoso lutador de vale-tudo que está viajando pelo Ceará para enfrentar adversários locais em combates transmitidos pela televisão.

Com o patrocínio do candidato a prefeito Rossivaldo (Frank Menezes) –cuja verborragia oca e repleta de estrambóticos neologismos foi calcada no linguajar de Odorico Paraguaçu, da novela "O Bem Amado"–, Li vai a Quixeramobim treinar artes marciais com o Chinês (o cantor Falcão, em seu segundo papel no cinema), um charlatão que vive como ermitão.

Os poucos ortodoxos métodos de treinamento do Chinês, ao lado de seus discursos de pacotilha sobre a filosofia oriental, estão entre os momentos mais divertidos do filme.

Outro dado espirituoso são as expressões do "cearencês" –obsessão que Halder Gomes trouxe do filme anterior–, que soam particularmente engraçadas para quem não é cearense.

Outra característica interessante são as constantes referências aos filmes de kung fu dos anos 1970 –outro traço vindo de "Cine Holliúdy"–, nas cenas em que Li imagina estar na China, que têm formato e textura de imagem de VHS, mídia muito em voga em 1982, a época em que se passa a história.

O lado problemático da comédia está na falta de ritmo de dois momentos: o período de treinamento com o Chinês e o embate final contra Tora Pleura, ambos longos e repetitivos.

O SHAOLIN DO SERTÃO
DIREÇÃO Halder Gomes
ELENCO Edmilson Filho, Bruna Hamú, Falcão
PRODUÇÃO Brasil, 2015, 12 anos
QUANDO estreia nesta quinta (20)


Endereço da página:

Links no texto: