Folha de S. Paulo


Álbum póstumo de Sabotage é lançado 13 anos após o assassinato do rapper

Escritos e gravados por Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage, um dia antes de seu assassinato, aos 29 anos, em 2003, os versos de "Quem Viver Verá" jogam luz ao potencial que guardava o rap pré-Emicida, Rashid e Projota.

"Quem viver verá, rap é o som/ Pode chegar, favela é um bom lugar", previu o rapper em uma das 11 canções que compõem o aguardado álbum póstumo batizado com sua alcunha e lançado nesta segunda (17), no Spotify.

É aos sucessores desse território que o segundo álbum de Sabotage reforça sua mensagem: rap é compromisso.

"É uma oportunidade de conhecê-lo, entender que respeito é pra quem tem", diz DJ Cia, um dos nomes na linha de frente da produção, citando outro sucesso do artista.

Assim como o disco de estreia de Sabotage, o segundo álbum também foi produzido pelo Selo Instituto, liderado por Daniel Ganjaman, Tejo Damasceno e Rica Amabis.

"Ele era acima da média, atemporal. Existe o rap voltado para mercado, e não estou falando mal, muitos são bons, mas eles vão se transformando como qualquer artista pop. Quando a gente fala do clássico rap nacional, esse tem um valor que dura a vida inteira", diz Damasceno.

A produção partiu das gravações que Sabotage preparou na semana de sua morte.

Inacabadas, elas ganharam toques de um time robusto de velhos parceiros do compositor, que inclui nomes como Tropkillaz, DBS, Negra Li, Quincas Moreira, Dexter, BNegão, Céu e Sandrão.

Além de "Quem Viver Verá", que foi finalizada com versos e vozes de Dexter e programação e samples de Cia, o álbum inclui faixas como "Sai da Frente", feita para a trilha de "Carandiru" (2003), de Hector Babenco.

Todos participaram de forma voluntária e cederam direitos artísticos e autorais aos filhos do rapper, Tamires, 22, e Wanderson dos Santos, 23.

Precocemente órfã, a dupla cresceu entre homenagens ao pai, conforme o disco era produzido. No meio do caminho, encontrou uma dicotomia que envolve um artista e ex-traficante, mas não o julgou.

"Quando a gente nasce e cresce na favela, o crime não é a única opção, mas é a mais fácil para conseguir dinheiro. Nunca tive vergonha do passado do meu pai, isso nunca me atrapalhou, mas nunca tive orgulho", diz Tamires.

Para ela, o álbum serve como lembrança do pai; a garota aponta especialmente para a faixa "País da Fome: Homens Animais".

Produzida por Cia, a canção, que inicialmente não tinha um refrão, foi produzida de forma a ressaltar a letra.

Logo no início, ouve-se o noticiário da morte de Sabotage, seguido por uma narrativa de injustiças envolvendo seus conhecidos.

"É uma música em que ele fala das pessoas que já se foram, como a minha avó, e se despede dos amigos de quem não teve chance de se despedir. Não vou mais ouvir ele falando meu nome, mas nessa música eu ouço", diz Tamires.

MORTE

Sabotage foi morto com quatro tiros na madrugada de 24 de janeiro de 2003, logo após deixar a mulher no trabalho.

Em 2010, Sirlei Menezes da Silva foi condenado a 14 anos de prisão pelo crime, que, segundo a investigação, tem relação com o passado do rapper no tráfico. Silva cumpre a pena no presídio de Andradina (SP).

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