Folha de S. Paulo


Aos 30 anos, Companhia das Letras quer dar espaço a jovens editores

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 10-10-2016: ESPECIAL ILUSTRADA. Retrato de Luiz Schwarcz, editor e diretor da Comapanhia das Letras (que faz 30 anos) na sede da editora no Itaim. (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, ILUSTRADA).
O editor Luiz Schwarcz, no escritório da Companhia das Letras

Luiz Schwarcz anda fazendo esforço para ficar invisível. Pouco dá declarações públicas. Os gestos são contidos. A própria voz, sempre baixa, é como se minguasse em direção ao silêncio. Nos 30 anos da Companhia das Letras, que se completam no dia 27/10, o presidente do grupo quer que os jovens editores formados na casa ocupem os espaços.

"Meu próximo post [no blog da editora] chama-se 'Contra o Culto à Personalidade do Editor'", diz.
Mas talvez a casa ainda precise da sua visão tanto quanto no começo. A Companhia das Letras observa a encruzilhada. Depois de perder seus lucros para a hiperinflação nos anos 1990, a empresa fundada por Schwarcz tomou novos rumos nos anos de FHC e Lula.

Apostou na pátria educadora. Não só porque em anos bons as compras do governo chegaram a representar 15% das vendas da editora. Com a ascensão da classe C, a casa conhecida pelo refinado filtro literário criou sua linha de livros populares.

Parecia uma explosão. Virou uma implosão.

"Esse país que investia no humanismo volta? Tenho sinais de que não. Há a situação financeira [do país], mas também uma linha de governantes que não acreditam tanto nisso", diz ele. "Eu me refiro a termos no poder, não só na esfera federal, políticos sem a vocação humanista de FHC ou o interesse social de Lula."

É uma situação que pode afetar as obras dos autores clássicos brasileiros, caso dos espólios literários, que se tornavam comercialmente viáveis pelas vendas ao governo.

A virada dos livros populares começou em 2011, quando a multinacional Penguin comprou 45% da Companhia. Logo depois, em 2013, outra fusão: a Random House juntou-se à Penguin. Em 2014, a empresa comprou a Santillana, sócia da carioca Objetiva. O xadrez provocou a fusão de paulistanos e cariocas.

A venda para a Penguin, diz Schwarcz, também tem a ver com os anos de FHC e Lula. Em um país que passava a munir bibliotecas e em que a classe C ascendia, o editor achou que a empresa poderia encolher se não ajustasse o rumo.

"A Companhia nunca quis ser de elite. Queríamos democratizar a alta cultura, com livros que não fossem herméticos. Não fomos [editores] franceses, mas anglo-saxões. Com Lula, íamos virar uma editora de nicho se não falássemos com o novo público."

O BISCOITO FINO E A MASSA

Um dos selos comerciais recebeu o nome de Paralela. Seria a expressão de um desconforto de uma casa literária com os novos rumos?

Schwarcz diz que não –e afirma que aprendeu a gostar de editar livros comerciais, nos quais busca uma "força subjetiva". Na sua opinião, é essa força, mais do que as fórmulas, que faz um livro vender. Mas admite que a mudança não se deu sem conflitos.

"Tivemos discussões até políticas. Algumas pessoas eram muito contra. Eu perguntava em que partido elas votavam, e a maior parte dos editores daqui votava ou vota no PT. E disse: 'Você vota no PT, mas tem preconceito com a base do partido. Não quer produzir livros que dialoguem com esse público'."

Hoje poucos editores se manifestam em público sobre temas espinhosos –mas Schwarcz se posicionou contra o impeachment de Dilma Rousseff. Queria nova eleições.

A figura do editor que participa do debate público foi mais comum durante a ditadura. É papel do editor se posicionar politicamente? Como cidadão, ele acredita que "pode" marcar posição. Mas a editora deve ser plural.

"Isso não impediu que eu mandasse um e-mail aos editores dizendo 'esquerda volver'. Onde está a reflexão da esquerda sobre o que está acontecendo? Havia um oportunidade política e editorial para refletir sobre a caminhada mais à direita do país."

Publicaria o livro do deputado cassado Eduardo Cunha? "Nem procurei esse livro. Você tem que ter um mínimo de identificação, tem um limite. Talvez não publicasse o livro da Dilma também, embora haja uma diferença entre eles. Sou muito crítico da gestão dela e acho que isso poderia atrapalhar."


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