Folha de S. Paulo


Livro destrincha biquíni da bomba atômica à volúpia das brasileiras

Do primeiro teste da bomba atômica no Atol de Bikini, no Oceano Pacífico, em 1946, até a alcunha de "peça mais desejada da moda brasileira", o biquíni guarda uma história de vanguardismo, sexo e moralismo ligada à relação da mulher com o próprio corpo.

Foi para analisar o conjunto de duas peças escondido sob os panos dos costumes ocidentais que a jornalista Lilian Pacce, ex-editora de moda da Folha, passou 13 anos debruçada em entrevistas, fotos e uma vasta checagem cronológica dos fatos que envolvem o traje de banho criado pelo francês Louis Réard.

"Um marqueteiro, que por ter patenteado [o desenho] e impedido outros estilistas de usarem, não conseguiu a 'explosão' que esperava na época", diz Pacce sobre os meses seguintes ao lançamento da novidade, cujo nome fazia referência às "explosões" dos testes atômicos daquele ano.

Apesar de ter ganhado fama nas curvas das cariocas, a peça "voltou para a casa", como define a jornalista. "O Biquíni Made in Brazil", que tem projeto gráfico assinado pelo diretor de arte Giovanni Bianco, foi lançado primeiro durante a semana de moda de Paris, no início deste mês. Por aqui, será vendido a partir de quarta-feira (19).

Em seu estudo, ela corrige erros históricos, como o consenso de que o biquíni apareceu no cinema pela primeira vez no corpo de Brigitte Bardot em "E Deus Criou a Mulher" (1956), de Roger Vadim.

Foi a mesma atriz que eternizou o miniconjunto, mas no longa "Manina, A Moça Sem Véu" (1952), de Willy Rozier, cujo título em inglês é "The Girl in The Bikini" (A Moça de Biquíni).

Fez também uma ampla pesquisa com personagens-chave para a disseminação do traje. Como a ex-modelo alemã Miriam Etz (1914-2010), primeira a aparecer no Rio com um "duas peças" –versão que encobria o umbigo.

O estudo ainda tem como base, por exemplo, a obra do modernista Oswald de Andrade –"que lamentou o português ter vestido o índio, e não o índio ter despido o português"– e a do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.

"A relação dos índios com o corpo revela nossa forma de usar o biquíni. Mulheres de uma tribo no Xingu, por exemplo, cobrem a intimidade com o uluri [cinto que só envolve uma pedaço da cintura]. As brasileiras, por menor que seja o biquíni usado, também se consideram vestidas. Carregamos heranças indígenas com o pudor português", explica.

Talvez por isso o Brasil tenha se tornado referência na criação de moda praia.

"Mais do que um registro histórico, meu trabalho tenta recuperar a autoestima da nossa moda", afirma Lilian.

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O BIQUÍNI MADE IN BRAZIL
AUTORA Lilian Pacce
EDITORA Arte Ensaio
QUANTO R$ 120 (350 págs.)
LANÇAMENTO quarta (19), às 18h, na Livraria Cultura do shopping Iguatemi, av. Brigadeiro Faria Lima, 2.232, piso 3


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