Folha de S. Paulo


'Vovó do mal' de 'Sol Nascente', Laura Cardoso é mais querida que mocinhas

Não subestime a vovozinha. Um bolo fofinho preparado por Sinhá, personagem de Laura Cardoso na novela "Sol Nascente", pode estar envenenado, como o que ela mandou de presente para um inimigo, que caiu morto após comê-lo em um capítulo exibido no início deste mês.

Grande vilã da trama das 18h da Globo, Sinhá arquiteta os planos que seu neto, César (Rafael Cardoso), leva a cabo para tomar a empresa de pescados de Tanaka –o japonês vivido pelo brasileiro Luís Melo–, pai da mocinha Alice (Giovana Antonelli).

Cesar alves/TV Globo/divulgação
Laura Cardoso como a dona Sinhá de 'Sol Nascente
Laura Cardoso como a dona Sinhá de 'Sol Nascente'

Os golpes contra a família oriental da novela ainda parecem gratuitos, mas ganharão clareza nos próximos capítulos. O público começará a entender as desavenças de um passado em que Tanaka teria prejudicado Sinhá. Por isso, ela alimenta o desejo de vingança contra o imigrante.

A maldade da idosa, apelidada de "vovó do mal" nas redes sociais, não a impediu de ser adorada. Carismática e divertida –mantém um cassino clandestino e reclama que prefere uma dose de uísque ao chá da tarde com o neto–, tornou-se a personagem mais querida da novela, superando as beldades da produção.

QUERIDAS

Ouvindo um grupo de pesquisa de audiência, os autores constataram que a personagem de Cardoso é a favorita de "Sol Nascente". Em segundo lugar, vem Geppina, a vovó do bem vivida por Aracy Balabanian. Só depois apareceram as musas Alice (Antonelli), Lenita (Letícia Spiller) e Milena (Giovanna Lancellotti).

Das conversas com a audiência, Walther Negrão, Suzana Pires e Julio Fischer, que assinam a história, resolveram diminuir a ingenuidade da protagonista de Antonelli e torná-la uma heroína mais ativa e moderna. Na trama, ela vive uma história de amor com um amigo da juventude (Bruno Gagliasso).

"Sol Nascente" estreou em setembro e, na semana passada, registrou audiência média de 19,7 pontos na Grande São Paulo, onde cada ponto representa 197,8 mil espectadores individuais. A antecessora "Êta Mundo Bom!" marcou, em média, 27 pontos nos oito meses em que foi ao ar.

O tamanho que os autores reservavam para a vilã de Laura Cardoso na história, porém, não mudará: ela já teria bastante importância.

Limitações por causa da idade da atriz, que completou 89 anos em setembro, também não impedem que ela grave um grande número de cenas, incluindo as que exigem esforço em locações externas. "Ela reclama se a poupamos", diz um dos autores.

Laura começou a carreira aos 16 anos em radionovelas. É da geração pioneira da teledramaturgia no Brasil –nos anos 1950, fez teleteatros ao vivo na TV Tupi. A amizade com Negrão, que escreveu personagens para ela em novelas como "Flor do Caribe", já dura mais de cinco décadas.

A atriz não para. Na entrevista à Folha, por telefone, terminava cada frase com gargalhadas enquanto contava que o modo como trabalha jamais mudou: muita leitura, de livros e jornais, e observação da gente ao seu redor.

"Queria chegar à perfeição da representação. Mas a gente erra muito. E acerta. Sou dedicada ao meu serviço, me sinto uma operária da dramaturgia", diz. "O ator tem que estar atento às mudanças, as coisas mudam, o modo de representar vai sendo mais moderno. Não gosto de técnica, sigo o meu tempo."

E o tempo não assusta Laura. A atriz envelheceu atuando na TV e diz rejeitar cirurgias plásticas para si. "A gente deve aceitar o curso da vida. Gosto da minha fala, das minhas rugas. Já fui uma gata no começo da TV, mas gosto dessa coisa de andar ao lado do tempo. Não tenho essa coisa de beleza externa, não. O ator é bonito, feio, novo, magro, gordo. Sabe? Um ator é tudo."

NA TV - Sol Nascente
Quando: seg. a sáb., às 18h15, na Globo


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