Folha de S. Paulo


Diretores tratam temas densos com ironia em filmes do Festival do Rio

Pela sinopse dos filmes, tanto "Fala Comigo" quanto "Comeback" anunciam tramas pesadas. No primeiro caso, um adolescente nutre uma fixação sexual pelas pacientes de sua mãe, terapeuta. No segundo, um pistoleiro "aposentado" ensaia como retornar ao antigo ofício.

Em ambas as produções, contudo, a temática densa é amainada pelo tom leve, às vezes sarcástico, com que seus diretores, estreantes em longas, as manejam. Os dois filmes brasileiros fizeram sua estreia na noite deste domingo (9), ambos na mostra competitiva do Festival do Rio.

"Fala Comigo", de Felipe Sholl, trata de carência afetiva com um quê de perversidade. Aos 17, Diogo (Tom Karabachian) tem o hábito de ligar para as pacientes de sua mãe (Denise Fraga) e se masturbar enquanto as ouve ao telefone. Uma dessas mulheres é Ângela (Karine Teles), quarentona depressiva que acaba de terminar um casamento.

Divulgação
Tom Karabachian é Diogo em cena de 'Fala Comigo', primeiro longa do diretor Felipe Sholl
Tom Karabachian é Diogo em cena de 'Fala Comigo', primeiro longa do diretor Felipe Sholl

"O filme trata de duas pessoas buscando intimidade de forma incomum. Gosto de falar do amor surgindo de lugares inusitados", diz Sholl, premiado no Festival de Berlim pelo curta "Tá" (2007), sobre dois rapazes que se conhecem num banheiro público.

No longa, o carioca Sholl quebra o clima sério do envolvimento entre um garoto menor de idade e a mulher bem mais velha com tiradas espirituosas. "O tema é sórdido, mas eu queria tratar dele de forma humana, delicada", afirma à Folha.

Ele atribui boa parte da "leveza" do filme à escalação de Tom Karabachian, ex-integrante da banda Dônica, pinçado em visitas do diretor a escolas de teatro do Rio.

Já "Comeback" põe o ator Nelson Xavier para dirigir pelas ruas poeirentas de alguma periferia em Goiás. É ele o pistoleiro afastado que carrega um álbum com recortes de jornais de várias das chacinas que afirma ter praticado e que agora, velho e solitário, ensaia um "comeback".

Enquanto planeja seu retorno à pistolagem, Amador (Xavier) se vira tentando emplacar máquinas caça-níqueis em botecos suburbanos e vai se envolvendo em situações tragicômicas.

"Já tentei escrever coisa séria, mas nunca consigo", diz o diretor do filme, Erico Rassi. "Nunca começo pensando em fazer uma comédia, mas sei que não vou carregar tanto no drama. É algo que acaba saindo espontaneamente."

Natural de Anápolis (GO), o diretor retornou a seu Estado para rodar a trama. "Queria retratar uma periferia que não fosse aquela já muito explorada, das favelas cariocas ou paulistanas."

Ambos os filmes terão reprises nesta terça (11), no Kinoplex São Luiz (r. do Catete, 311, tel. 21-2557-4394) –"Comeback", às 14h e às 19h; "Fala Comigo", às 16h30 e 21h30.

O jornalista GUILHERME GENESTRETI viajou a convite do Festival do Rio


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