Folha de S. Paulo


Um dos fundadores e líderes do MBL também é cantor do Bonde do Rolê

Adriano Vizoni/Folhapress
SAO PAULO - SP - BRASIL, 05-10-2016, 15h00: LIDER OCULTO DO MBL. Retrato de Pedro Ferreira, fundador do MBL que nunca topou aparecer em imagens como lideranca do movimento. (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, ILUSTRADA) ***EXCLUSIVO FSP***
Pedro Ferreira no escritório do MBL

Um dos membros fundadores do MBL (Movimento Brasil Livre), que se notabilizou pelos atos pró-impeachment de Dilma Rousseff, é também integrante da banda curitibana Bonde do Rolê.

O grupo faz apresentações escandalosas, que misturam funk carioca com música eletrônica e pop –e acumula no currículo elogios da revista "Rolling Stone" e do jornal "The New York Times".

Pedro Augusto Ferreira Deiro, 33, ora é Pedro Ferreira, do MBL, e se encontra com políticos para cobrar medidas de austeridade, ora se apresenta como o funkeiro alternativo Pedro D'Eyrot.

Em entrevista à Folha, ele, que largou o curso de publicidade para "viver de funk", assume pela primeira vez a dupla jornada. E explica que, ao criar o MBL, pretendeu revolucionar a estética da direita e aposentar a velha imagem do conservador coxinha.

Leonardo Soares/UOL
SAO PAULO, SP 23.06.2013: - 17 FESTIVAL CULTURA INGLESA - A banda inglesa Bonde do Role se apresenta no 17 Festival Cultura Inglesa, que acontece no Memorial da America Latina, zona oeste de Sao PAulo (Foto: Leonardo Soares/UOL).******EMBARGADO PARA USO EM INTERNET*******
Pedro D'Eyrot, em show de sua banda Bonde do Rolê

*

Folha - Você é líder do MBL desde quando existe MBL?
Pedro Ferreira - Tudo começou na metade de 2014, quando eu, o Renan [Santos] e o Alexandre [Santos] decidimos abrir um escritório para desenvolver uma linguagem que propagasse ideias políticas nas quais acreditamos.

Partimos da tese de que faltava estética e apelo para difundir na sociedade uma visão de mundo mais liberal. A esquerda contemporânea desenvolveu uma roupagem romantizada para seus ideais e, assim, formou uma militância consistente. Era preciso –com o perdão da ironia– revolucionar o liberalismo.

Começamos a nos perguntar que diferenças fundamentais fazem com que a Anitta seja um símbolo agregador de protagonismo assim como o deputado Jean Wyllys. Fomos forjados na barriga desse leviatã de impressões que é a comunicação de hoje. Tudo a fazer era selar a besta e tentar guiá-la pelo deserto de novas ideias que era nosso lado do espectro político. Acredito que conseguimos.

Por que achou que era o caso de esconder o seu ativismo?
O MBL precisava encontrar seu próprio caminho, sua própria linguagem. Eu já era pessoa pública e, no imaginário dos fãs da banda, minha essência encontrava-se já cristalizada. Não me parecia justo mesclar essas realidades. Naquele momento, parecia-me que meu trabalho seria muito mais bem empregado nos bastidores.

Sente que vive vida dupla?
Essa dualidade sempre existiu. Viver cotidianamente o personagem Pedro do Bonde é insustentável para mim. Na vida privada, sempre fui uma pessoa calma, analítica. Pedro D'Eyrot sempre foi nome artístico. Nunca tive a intenção de usar essa persona para alavancar a projeção política do MBL.

Na volta de um show em Goiânia, você passou por Brasília e se reuniu com Moreira Franco, um dos auxiliares mais próximos de Michel Temer.
Nosso intuito era cobrar o andamento das reformas propostas pela nova gestão, fundamentais para a recuperação do país e, por isso, pautas fundamentais do movimento.

Na internet, há detratores seus entre pessoas de esquerda e conservadores.
Nada nunca é tão ridículo que não possa nos surpreender. Se alguém me falasse que eu seria vítima da perseguição de um grupo de carolas anônimos chamado Defesa Hétero –por conta de uma suposta agenda oculta que usaria o impeachment como subterfúgio para transformar a juventude brasileira em homossexuais–, eu iria dizer pro camarada: "Me dá um negócio desse que você tá usando, porque deve ser forte!".

Há intolerância devido às suas visões políticas?
Sim, em ambos os extremos. Política e arte, para mim, tratam de construir pontes. A música do Bonde estabeleceu pontes entre o funk carioca, o electro e o rock. O MBL estabelece pontes entre conservadores, liberais e sociais democratas fiscalmente responsáveis. Quem rejeita o diálogo, para mim, é intolerante.

A maioria dos frequentadores dos shows do Bonde é de esquerda? Atribuiriam a você pecha de "golpista"? Considera esses fãs intolerantes?
Intolerantes? Jamais! A maioria dos frequentadores dos shows do Bonde do Rolê quer mesmo é transar. Afinal, quem dos nossos não daria um pause na ideologia por um boy magia? Prefiro acreditar que é um ambiente inclusivo e que tem a maturidade de superar até esse tipo de diferença. Imagino se, por exemplo, o Fernando Holiday [primeiro gay assumido eleito como vereador em São Paulo] resolvesse se soltar na pista em um de nossos shows. Acho provável que o golpe ao qual ele estaria sujeito seria do tipo indecente.

Como os colegas do Bonde veem seu ativismo de direita?
Eles têm ressalvas ao meu estilo "direita transante". Não concordam com posições do MBL, temos discussões até bem sérias, mas sempre fomos, antes de tudo, amigos.


Endereço da página: