Folha de S. Paulo


Filósofo Peter Sloterdijk alerta sobre esgotamento de recursos do planeta

O filósofo alemão Peter Sloterdijk dedicou sua palestra no ciclo Fronteiras do Pensamento, nesta quarta-feira (5), a alertar sobre o esgotamento dos recursos naturais do planeta devido à exploração humana.

Sloterdijk comparou a Terra a uma nave espacial, cuja "tripulação precisa estar mais interessada na manutenção da vida dentro do veículo". Ele lembrou, mantendo a metáfora, que o planeta é uma astronave que não teria "saídas de emergência".

Segundo ele, a história da Terra foi marcada pela ignorância quanto à natureza, já que sua população "não recebeu manual de instrução" de como usá-la. E conforme foi se adquirindo mais conhecimento, menos o tratamento "ignorante" do meio ambiente foi sendo tolerado.

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O filósofo alemão Peter Sloterdijk

Ele cita como sinal dessa tomada de consciência o encontro de líderes da União Europeia, nos últimos dias, para ratificar o Acordo de Paris. Contudo, ele também interpreta essa conscientização como um sintoma da grave ameaça que acomete o meio ambiente.

Desde a descoberta dos combustíveis fósseis, segundo o filósofo, "vivemos como se Prometeu tivesse roubado o fogo uma segunda vez, queimando também nossos conceitos vitais de liberdade".

A era fóssil, na concepção de Sloterdijk, fez com que associássemos a condição de liberdade com a "aceleração arriscada, o exagero, o desperdício".

FÚRIA DE TITÃS

A palestra foi intitulada "Sobre a fúria de titãs no século 21", em referência ao que Sloterdijk enxerga como o confronto que caracterizará o nosso tempo, frente à escassez de recursos.

O embate se daria entre duas grandes forças: o minimalismo e o maximalismo. "Oscilaremos entre um estado de desperdício maníaco e de parcimônia depressiva".

Segundo ele, todos os indivíduos inevitavelmente tomarão parte nesse conflito, através de suas ações do dia a dia. Para ilustrar, citou uma frase de seu compatriota Friedrich Nietzsche (1844-1900): "é a magia dessas grandes lutas que aquele que as assiste precise lutar também".

O filósofo apontou que se abriu caminho para uma nova moral, apelidada de "puritanismo ecológico", que opera em sentido inverso à que vem pautando a civilização. "É exigida a redução em vez de crescimento, a moderação onde se permite exploração, a limitação no lugar de liberação".

Segundo ele, essa nova ética tem o potencial de se impregnar às civilizações de maneira análoga a como se impuseram o budismo, o cristianismo e o islamismo.

Se assumirmos que esse entusiasmo ecológico prevalecerá, aponta Sloterdijk, resta a questão de se isso se dará por uma aceitação voluntária nas culturas de altas emissões ou se "os governos de nações ricas, na falta de um sistema global, seriam obrigados a proclamar em seus territórios um direito de guerra ecológico".

O outro lado da moeda é a visão pessimista de que essa lógica de preservação do meio ambiente não sairá vencedora em culturas onde "a força motriz é baseada em superação, a favor da abundância, do desperdício e do luxo".

RESPONSABILIDADE

O professor Oswaldo Giacóia Junior, que leciona filosofia na Unicamp e participou do debate, levantou a questão da responsabilidade na relação do homem com a natureza.

Sloterdijk lembrou que o conceito de responsabilidade é relativamente recente na filosofia, remetendo ao século 20. Essa época, segundo ele, é quando se percebe que o ser humano está cada vez mais sobrecarregado pelas consequências de suas ações.

"Antigamente, a ética vinha de um sentimento de obrigação, de virtude. A responsabilidade só se torna uma categoria importante quando as pessoas fazem coisas cujas consequências não conseguem controlar."


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