Folha de S. Paulo


Desfiles unem tecnologia e ficção científica na semana de moda de Paris

"Só com a tecnologia você pode criar coisas novas na moda. Todo o resto já foi inventado." O mantra do estilista cipriota Hussein Chalayan nunca fez tanto sentido como nesta Semana de Moda de Paris.

Novas formas de pensar a relação do corpo com a roupa foram testadas nas passarelas. A Chanel, por exemplo,elucubrou sobre a revolução digital em seu desfile de terça (4). O Grand Palais virou um imenso "data center", onde modelos passeavam por entre fios e estruturas de metal.

Modelos, não, "stormtroopers" –a polícia do império galáctico da franquia "Star Wars". Duas modelos de tailleur desfilaram com releituras da fantasia imaginada pelo cineasta George Lucas.

Também deve ficar no ramo da ficção o preço da "bolsa-desejo" da grife, uma "clutch" de couro com pontos de LED que mostra mensagens personalizadas pela cliente. Estranho? Pois ela ainda fala.

Outro "acessório inteligente" é da japonesa Issey Miyake, marca mais tecnológica das que desfilam em Paris. A grife mostrou uma bolsa de "e-paper" –material desenvolvido pela Sony que muda de cor nas mãos do portador.

O estilista da marca, Yoshiyuki Miyamae, também mostrou que o plissado característico da Miyake assumiu formas tridimensionais, feitas com uma técnica de aplicação de ondas de calor na matéria-prima. O resultado são formas que se dobram pelo corpo como origamis vivos.

CONTRAPONTO

"A verdade é que ninguém encontrou uma função para a tecnologia na roupa. O que foi criado até agora não é interessante e nem um pouco sexy", diz o diretor criativo da relojoaria suíça Swatch, Carlo Giornadetti. "A tecnologia tem de ajudar as pessoas, não apenas medir batimentos ou fazer ligações pelo relógio."

No desfile de Hussein Chalayan, na sexta (30), uma utilidade prática foi testada. A Intel desenvolveu cintos conectados, via bluetooth, a microchips instalados em óculos para medir níveis de estresse. A geringonça ainda projeta na parede imagens que variam a partir do humor.

Segundo a marca, a ideia é que as pessoas identifiquem seus níveis de estresse e exercitem o autocontrole para evitar doenças. Tanto os óculos como o cinto não serão produzidos, mas estavam ali como exemplos de projetos ambiciosos das gigantes da informática para a moda.

A maior revolução em curso, no entanto, diz respeito à confecção das roupas. A estilista holandesa Iris van Herpen é o único nome do calendário parisiense a usar impressoras 3D para produzir peças de suas coleções. Um vestido de 2011, impresso em laboratório, foi eleito pela revista "Time" uma das 50 maiores criações do século.

A MULHER 3D

Fora do calendário parisiense, essa tecnologia é a base do trabalho da israelense Danit Peleg, responsável pelo look que a atleta americana Amy Purder usou na abertura da Paraolimíada do Rio.

"Logo as pessoas poderão baixar suas roupas, imprimi-las em casa ou em butiques de impressão. As peças serão personalizadas com as medidas exatas do cliente, evitando desperdícios, e as marcas poderão vender roupas digitais no formato de arquivos", afirma Peleg.

E acrescenta: "É questão de tempo até vermos impressoras mais baratas que vão democratizar o acesso à moda."


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