Folha de S. Paulo


Crítica

'Demônio de Neon' até cria clima sombrio, mas não sai do lugar

Em seus dois trabalhos com o ator Ryan Gosling, "Drive" (2011) e "Só Deus Perdoa" (2013), o diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, 46, colecionou elogios. Principalmente no primeiro, quase um drama existencialista sobre quatro rodas e com o pé fundo no acelerador.

"Só Deus Perdoa", mergulho no submundo do tráfico em Bancoc, não empolgou tanto, mas manteve Refn no rumo do reconhecimento como um cineasta inventivo.

"Demônio de Neon", seu novo longa, contudo, é um grande equívoco, para dizer o mínimo. Mesmo com toda a boa vontade do mundo fica difícil encontrar nele alguma coisa digna de elogios.

A trama parte de uma premissa requentada: jovem ingênua chega a uma metrópole para tentar a sorte como modelo e encontra ambiente barra-pesada que transforma sua vida num inferno.

No caso deste filme, a mocinha é Elle Fanning, 18, de "Malévola" e "Trumbo", a cidade grande é Los Angeles, e o tal inferno é quase literal.

A novata Jesse conhece a maquiadora Ruby, que a leva a baladas e a coloca em contato com gente poderosa no mundo da moda. Poderosa e esquisita.

O clima sinistro que o filme tenta transmitir faz com que todos os personagens pareçam suspeitos de não serem realmente o que aparentam.

Às vezes, o espectador poderá fazer alguma associação com "Advogado do Diabo" (1997), com Keanu Reeves e Al Pacino, que tem o mesmo registro soturno -impressão reforçada pela presença de Reeves num papel menor em "Demônio de Neon".

O problema maior é que o longa de Refn se perde em uma estética vazia. Tudo é exibido em cenários minimalistas, festas "doidonas", luzes frias e sexo "lesbian chic". Parece um extenso comercial de perfume de grife famosa do tipo que costuma passar em canais por assinatura.

Aí a lembrança vai para outro filme, este mais antigo e famoso, "9 e 1/2 Semanas de Amor" (1986), com Mickey Rourke e Kim Basinger, que trazia a mesma embalagem, mas tinha um roteiro que caminhava para a frente.

"Demônio de Neon" patina e não sai do lugar. Sem bons diálogos, atores que já são ruins ficam péssimos, notadamente a bonitinha Elle.

Alguém poderá dizer que o filme, pelo menos, é um desfile de rostos lindos. Verdade, mas ver um desfile da Victoria's Secret provoca o mesmo efeito e não dura quase duas longas horas.

Mais um desses e Nicolas Winding Refn já era.

DEMÔNIO DE NEON
DIREÇÃO Nicolas Winding Refn
ELENCO Elle Fanning, Jena Malone, Christina Hendricks, Keanu Reeves
PRODUÇÃO França/Dinamarca, 2016, 16 anos
QUANDO em cartaz


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