Folha de S. Paulo


Crítica

Sem inovar, 'Tô Ryca' só não é martírio por causa do elenco

Já vimos essa mesma história muitas vezes, com variações. Em "Tô Ryca", assim mesmo, em "internetês", a frentista Selminha descobre ser a única herdeira de um milionário excêntrico que lhe impôs uma única condição para receber a herança: gastar R$ 30 milhões em 30 dias, mas sem poder adquirir nada.

Como gastar é com brasileiro mesmo, a tarefa não parece tão difícil. O certo é que ao trivial consumismo de boa parte do nosso cinema comercial acrescentamos esse desafio, na linha de filmes hollywoodianos como "Trocando as Bolas" (clássico oitentista de John Landis).

Divulgação
CENA DO FILME To ryca [Brasil, 2015], de Pedro Antônio (Downtown/Paris). Gênero: comédia. Elenco: Samantha Schmutz, Marcelo Adnet, Marcus Majella. Classificação: 12 anos ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Samantha Schmütz em cena do filme 'Tô Ryca'

Há pouco tivemos uma trama semelhante com "O Suburbano Sortudo". No lugar da frentista, um camelô. No lugar do jogo, a rivalidade com aqueles que se consideram os herdeiros naturais.

"Tô Ryca" tem no papel principal Samantha Schmütz, mais conhecida pelos programas "Zorra Total" e "Aí Eu Vi Vantagem", mas ainda pouco vista no cinema.

Ao seu lado, a carismática Katiuscia Canoro, também do "Zorra Total", no papel de Luane, melhor amiga de Selminha. Coadjuvantes, aparecem Marcelo Adnet como um político de extrema direita, e Marcus Majella e Fabiana Karla como fiscais do desafio.

O diretor Pedro Antonio é estreante no cinema –e já tem mais um filme no gatilho: "Um Tio Quase Perfeito". Sua experiência anterior mais marcante foi a direção do "Prêmio Multishow de Humor", além de episódios de humorísticos pouco célebres do canal.

Por tudo isso e mais o tema reciclado, era esperado que "Tô Ryca" fosse um sucesso moderado. Mas o longa se transformou em um arrasa-quarteirões, apesar das costumeiras críticas negativas reservadas a esse tipo de comédia (mas sabemos também que uma crítica não abala uma comédia popular).

Mais do que tentar entender o fenômeno e entrar na cabeça das pessoas para identificar o que as levam ao cinema, interessa aqui perceber se o filme tem algo valioso ou é apenas mais uma amostra do mau gosto do público de shopping centers.

Um valor possível, ainda que discutível, seria mostrar ao maior número de pessoas que dinheiro não é tudo. Mas logo vemos que essa velha máxima é negada.

O que vemos, aliás, é que o dinheiro acaba sendo a solução, até para se encontrar um amor. A solução da trama, por sinal, chega de modo meio estapafúrdio, sem muita elaboração.

"Tô Ryca" só não é um martírio de se ver por causa do elenco, que ainda assim é subaproveitado. Mas ainda falta muito para voltarmos ao nível das incompreendidas (na época) chanchadas dos anos 1950 e 60.

TÔ RYCA
DIREÇÃO Pedro Antonio
ELENCO Samantha Schmütz, Katiuscia Canoro, Marcelo Adnet
PRODUÇÃO Brasil, 2015, 12 anos
QUANDO: em cartaz


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