Já vimos essa mesma história muitas vezes, com variações. Em "Tô Ryca", assim mesmo, em "internetês", a frentista Selminha descobre ser a única herdeira de um milionário excêntrico que lhe impôs uma única condição para receber a herança: gastar R$ 30 milhões em 30 dias, mas sem poder adquirir nada.
Como gastar é com brasileiro mesmo, a tarefa não parece tão difícil. O certo é que ao trivial consumismo de boa parte do nosso cinema comercial acrescentamos esse desafio, na linha de filmes hollywoodianos como "Trocando as Bolas" (clássico oitentista de John Landis).
Divulgação | ||
Samantha Schmütz em cena do filme 'Tô Ryca' |
Há pouco tivemos uma trama semelhante com "O Suburbano Sortudo". No lugar da frentista, um camelô. No lugar do jogo, a rivalidade com aqueles que se consideram os herdeiros naturais.
"Tô Ryca" tem no papel principal Samantha Schmütz, mais conhecida pelos programas "Zorra Total" e "Aí Eu Vi Vantagem", mas ainda pouco vista no cinema.
Ao seu lado, a carismática Katiuscia Canoro, também do "Zorra Total", no papel de Luane, melhor amiga de Selminha. Coadjuvantes, aparecem Marcelo Adnet como um político de extrema direita, e Marcus Majella e Fabiana Karla como fiscais do desafio.
O diretor Pedro Antonio é estreante no cinema –e já tem mais um filme no gatilho: "Um Tio Quase Perfeito". Sua experiência anterior mais marcante foi a direção do "Prêmio Multishow de Humor", além de episódios de humorísticos pouco célebres do canal.
Por tudo isso e mais o tema reciclado, era esperado que "Tô Ryca" fosse um sucesso moderado. Mas o longa se transformou em um arrasa-quarteirões, apesar das costumeiras críticas negativas reservadas a esse tipo de comédia (mas sabemos também que uma crítica não abala uma comédia popular).
Mais do que tentar entender o fenômeno e entrar na cabeça das pessoas para identificar o que as levam ao cinema, interessa aqui perceber se o filme tem algo valioso ou é apenas mais uma amostra do mau gosto do público de shopping centers.
Um valor possível, ainda que discutível, seria mostrar ao maior número de pessoas que dinheiro não é tudo. Mas logo vemos que essa velha máxima é negada.
O que vemos, aliás, é que o dinheiro acaba sendo a solução, até para se encontrar um amor. A solução da trama, por sinal, chega de modo meio estapafúrdio, sem muita elaboração.
"Tô Ryca" só não é um martírio de se ver por causa do elenco, que ainda assim é subaproveitado. Mas ainda falta muito para voltarmos ao nível das incompreendidas (na época) chanchadas dos anos 1950 e 60.