Folha de S. Paulo


Entre caubóis e robôs, 'Westworld' questiona violência humana

Não existem limites morais em Westworld. O parque remonta o oeste selvagem e foi feito para que ricaços pudessem saciar seus desejos –inclusive os mais hediondos, como assassinar caubóis ou estuprar mocinhas.

Mas, para que esse lado primitivo não pese na consciência dos endinheirados, os caubóis mortos e as mocinhas violentadas são apenas robôs. Trazem fisionomia humana, falam como gente e até chegam a sorrir e chorar, mas não passam de simulacros. Programadas para não machucar os visitantes do parque, as criaturas artificialmente inteligentes seguem à risca as leis da robótica preconizadas por Isaac Asimov (1920-1992) —mas a obediência não durará muito tempo.

Fazer mal a uma máquina —um ser sem consciência— é realmente uma espécie de crueldade? Esta é uma das questões filosóficas propostas por "Westworld", série da HBO que mistura faroeste e ficção científica, que estreia no próximo domingo (2), às 23h.

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"Nesse sentido, acho o programa muito instigante", diz Rodrigo Santoro, que integra o elenco ao lado de Anthony Hopkins, Ed Harris e Evan Rachel Wood. "Tem muita ação, mas o que mais me estimula é esse subtexto, foi pensar 'estou falando isso, mas querendo dizer outra coisa'."

Em entrevista à Folha na manhã de quinta (22), em São Paulo, Santoro diz que a própria criação de seu personagem perpassa esse questionamento. Com uma cicatriz no rosto e roupa preta, Hector Escaton dá pinta de pistoleiro, mas Santoro afirma que, mesmo depois de gravar dez episódios, não sabe cravar se ele é vilão ou mocinho.

"Lendo os roteiros, me lembro de dar uma pausa e pensar 'não tô acreditando nos lugares aonde isso tá indo', no sentido de conceber o que é o bem e o que é o mal", diz.

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Inspirado no filme homônimo de 1973, a série criada por Jonathan Nolan (roteirista de "Batman: O Cavaleiro das Trevas" e "Interestelar") e produzida por J. J. Abrams (diretor de "Star Wars: O Despertar da Força") chega com um objetivo complexo: cair no gosto dos fãs de "Game of Thrones" que, em 2018, ficarão órfãos da atração e de suas cenas de nudez e violência.

Assim, "Westworld" —cujo primeiro episódio poderá ser assistido por não assinantes da HBO, uma vez que o canal vai abrir o sinal— também não economiza no derramamento de sangue.

"A série tem caubói, cavalo, mas também é um estudo profundo da natureza do homem, do apetite pela violência... É só abrir o jornal que você vê", afirma Santoro.


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