Folha de S. Paulo


LP best-seller de Dilermando Reis formou gerações de músicos

De certa forma, "Abismo de Rosas" está para uma grande parcela de violonistas brasileiros o que "Chega de Saudade", de João Gilberto, representou para a MPB. O disco, que na verdade é formado por regravações de grandes sucessos de Dilermando Reis, exerceu influência decisiva na infância de grandes instrumentistas.

O violonista e compositor Paulo Bellinati tinha dez anos quando o ouviu e lembra "aquela corda de aço cantando demais". "É um disco mágico, muito bem gravado."

A mãe de Bellinati passava roupa ouvindo rádio –o que incluía muito Dilermando. "Aos 13 anos aprendi 'Abismo de Rosas', 'Tristesse'. Imitar Dilermando era meu passatempo preferido. Não por acaso, uso um antigo violão seresta com corda de aço."

Luis Alberto/Agência O Globo
Rio de Janeiro (RJ) - 22/11/1972 - Dilermando Reis (músico) - Foto Luis Alberto / Agência O Globo - Negativo: 97715 ORG XMIT: AFP ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Dilermando Reis se apresenta para jornalistas no Rio, em 1972

O mesmo aconteceu com jovens talentos, como João Carlos Victor, que atualmente mora na Suíça e em 2015 venceu o Concurso Francico Tárrega, na Espanha, um dos mais prestigiados do mundo.

"Meu pai tinha esse LP. Depois de escutá-lo ainda criança, decidi ser violonista. Meus primeiros passos no instrumento foram voltados para o repertório que ele tocava. "

Em programa que dirigiu na Rádio Cultura, na década de 2000, o violonista Fábio Zanon afirma que o violão de Dilermando Reis é muito evocativo e sentimental por uma soma de fatores, além das cordas de aço.

O violonista recordava, por exemplo, que Dilermando era capaz de modular como ninguém e extrair um cantábile com imensa variedade de "vibratos". Ele ressaltava ainda que o músico seguia a prática do violão seresteiro, com as notas dos baixos se antecipando à melodia.

Mas, na opinião de Zanon, Dilermando ia ainda além. "Enquanto o acompanhamento mantêm um ritmo firme, a melodia passeia, flutua num éter de exaltação emocional, frequentemente se antecipando aos baixos, uma maneira totalmente espontânea e imprevisível".


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