Já no título, "Mate-me Por Favor" anuncia-se um filme estranho. Um prólogo mostra uma garota deslocada numa festa. Sua morte, num lugar em que ela caminha perdida, reitera o estranhamento com uma mistura de brutalidade verídica e gritos falsos.
O primeiro longa de Anita Rocha da Silveira amplia o foco que a diretora construiu em três curtas. Neles, a banalidade do cotidiano escolar juvenil aparecia distorcido por situações insólitas, inspiradas no cinema de horror.
Em "Mate-me Por Favor", ela explora o erotismo subjacente ao gênero e exacerba sanguinolência e violência como manifestações fantasmagóricas da sexualidade. As histórias confundem calafrios de temor com os de tesão.
Divulgação | ||
A atriz Valentina Herszage em cena de 'Mate-me Por Favor', longa de Anita Rocha da Silveira |
Silveira agrega observações sociais ao simbolismo psíquico dos curtas, em referência a cineastas como George Romero e Wes Craven, que trataram o medo como metáfora de questões concretas.
Não é acidental que as personagens vivam em condomínios na Barra da Tijuca, que simulam conforto e segurança para a classe média carioca. E passem boa parte do tempo no espaço protegido da escola.
A fotografia, esmaecida, também expressa uma visão do Rio avessa à de cidade maravilhosa e calorosa.
Silveira, porém, evita se apoiar no discurso social. Prefere a ironia, num distanciamento que impõe ao filme uma frieza que deve incomodar o público tradicional dos filmes de terror adolescentes.
A vocação reflexiva do longa também implica a tentação, comum entre estreantes, de abusar do exibicionismo formal. Esses pecadilhos, contudo, não impedem de saborear o talento da realizadora para o cinema, na contramão do óbvio.