Folha de S. Paulo


Crítica

'Lua em Sagitário' enfoca preconceitos e luta de classes

Um jovem sem-terra e a filha de um pequeno comerciante se apaixonam no oeste de Santa Catarina. Os pais dela detestam o pessoal do assentamento; defendem a pequena propriedade familiar, a meritocracia.

Ele vem de um grupo de luta por conquista de terra, que prega o coletivismo. O embate desses mundos e suas contradições está em "Lua em Sagitário", de Marcia Paraiso, um Romeu e Julieta catarina.

Ana (Manuela Campagna) quer independência e racionalidade; Murilo (Fagundes Emanuel) curte astrologia e faz o gênero militante tranquilo. Ambos adoram rock e se encontram numa LAN house.

Divulgação
CENA DO FILME Lua em sagitario [Brasil, 2015], de Marcia Paraiso (Elo Company). Genero: drama. Elenco: Jean Pierre Noher, Manuela Campagna, Fagundes Emanuel ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O casal Ana (Manuela Campagna) e Murilo (Fagundes Emanuel)

Querem dar uma escapada da rotina sufocante da fronteira. Partem numa viagem de moto rumo à capital, Florianópolis. No trajeto, o romance explode; surgem contradições, medos, raiva. Enfrentam os conhecidos preconceitos, agora em nova roupagem e com mais força.

Como em "Terra Cabocla" (2015), Paraiso vai buscar histórias do Brasil profundo. Naquele filme, a diretora tratou da guerra do Contestado (1912-16), conflito sangrento que há cem anos opôs caboclos e uma madeireira multinacional.

Agora, em "Lua em Sagitário", a mesma tensão está nas entrelinhas. Nessa ficção com atmosfera juvenil e muito rock, os confrontos são levados de forma mais suave e romântica.

De certa forma, os personagens da ficção são descendentes do confronto camponês relatado no documentário. Quase na mesma geografia, os caboclos, filhos de escravos, índios, peões, ressurgem no assentamento dos sem-terra –agora pequenos proprietários rurais mobilizados pela política– e no acampamento do MST, com barracas de lona, cantorias e escolas improvisadas.

O enfrentamento é com os pequenos senhores de classe média que se sentem superiores e que carregam o processo de "europeização" da região, cevando o ódio aos pobres.

Elke Maravilha faz uma ponta (seu último trabalho inédito) com o músico Serguei: só podia ser um casal de bichos-grilos no meio da floresta, numa casa saída de conto de fadas.

Audacioso pela temática, "Lua em Sagitário" faz leitura leve da luta de classes.

LUA EM SAGITÁRIO
DIREÇÃO Marcia Paraiso
ELENCO Andrea Buzato, Manuela Campagna, Chico Caprario
PRODUÇÃO Brasil, 2016, 14 anos
QUANDO: Estreia nesta quinta (15)


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