Folha de S. Paulo


Leão de Ouro para Lav Diaz consagra cinema impuro do diretor filipino

Venceu o favorito. "The Woman Who Left", do diretor filipino Lav Diaz, levou o Leão de Ouro no 73º Festival de Veneza no sábado (10). O troféu foi entregue pelo júri, comandado pelo cineasta Sam Mendes a um Diaz visivelmente surpreso e emocionado.

A emoção é compreensível; a surpresa, nem tanto. No filme, é tudo tão grandioso e admirável –os temas relevantes, a inteligência com que as cenas são filmadas, o humanismo dos diálogos– que seria uma heresia deixá-lo principal troféu de Veneza.

O longa tem quase quatro horas de duração, o que, para os parâmetros de Diaz, não é lá tanta coisa. No último Festival de Berlim, em fevereiro, ele apresentou um longa que durava oito horas.

Na maior parte do tempo, não acontece muita coisa em "The Woman Who Left": a maior ação durante a sessão no festival era a das pessoas que deixavam a sala.

Pois não sabem o que perderam. O filme tem alguns dos momentos mais marcantes vistos nesta edição de Veneza. Diaz fala sobre tolerância, perdão e persistência por meio da história de Horacia, uma mulher que ficou 30 anos na cadeia, presa por um crime que não cometeu.

Quando a verdadeira criminosa se entrega, ela é libertada e vai atrás dos filhos, que não vê há décadas, e do poderoso homem que a colocou atrás das grades.

Ao sair, Horacia assume novas identidades enquanto fica à espreita, observando os passos do seu desafeto. Nesse meio tempo, apieda-se de um vendedor de rua corcunda, uma mulher sem teto e uma travesti que se prostitui. Mudará a vida de cada um deles –e a sua própria.

O cinema de Lav Diaz é impuro: há sempre muitas coisas que, aparentemente, não precisariam estar ali.

A duração de muitas cenas, principalmente. "Elas têm o tamanho que eu acho que devam ter", o cineasta costuma dizer, ressaltando o caráter instintivo de sua obra. Mas basta ver "The Woman Who Left" para saber que Diaz sabe –e bem– o que faz.


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