Folha de S. Paulo


Maria Filomena Gregori questiona pornografia e objetificação sexual

Renato Parada/Divulgação
Retrato da antropóloga Maria Filomena Gregori, autora do livro
Retrato da antropóloga Maria Filomena Gregori, autora do livro "Prazeres Perigosos"

Vibradores e roupas de vinil, casas de sadomasoquismo e rituais de submissão, sex shops clandestinas no centro de São Paulo e outras mais refinadas em San Francisco, nos EUA. Foi neste universo que Maria Filomena Gregori, professora de antropologia da Unicamp, mergulhou por anos para entender melhor erotismo e pornografia, e a zona fronteiriça entre o deleite sexual e a dor.

O resultado dessa incursão é o livro "Prazeres Perigosos".

Na obra, Gregori levanta a questão da pornografia e os desdobramentos do que chama de "erotismo politicamente correto", que começou como uma espécie de reação de grupos feministas progressistas ao New Right, movimento de direita que se iniciou na década de 1960 nos EUA.

A inclinação conservadora da época reavivou uma vertente do feminismo "puritano, antissexo, de combate à pornografia", afirma a antropóloga. Em contrapartida, como resposta ao moralismo, os grupos de mulheres da linha pró-sexo abriram, nos EUA da década de 1970, sex shops voltadas para o exercício da livre sexualidade.

Ali eram bem-vindos homens, mulheres, gays, héteros, praticantes de sadomasoquismo, adeptos das mais variadas modalidades sexuais.

Com a ampliação do público-alvo, foi necessário "tornar esses apetrechos, essas fantasias palatáveis ao gosto das mulheres, formando assim o erotismo politicamente correto", diz Gregori. Entraram em cena apelos de mercado à autoestima e à saúde feminina.

"Com a internet, essa nova forma de sex shop e de produtos começa a transitar o mundo e chega ao Brasil", diz. "Já havia sex shops aqui, mas eram um negócio masculino —geralmente portinhas no centro das grandes cidades. E, de repente, surgem butiques eróticas nas regiões nobres de São Paulo, voltadas para mulheres."

A antropóloga lembra que a expansão do mercado para outros grupos levou à normalização de práticas consideradas clandestinas por esses públicos. Sobretudo modalidades que cingem prazer e dor, como o sadomasoquismo. "É uma zona onde habitam norma e transgressão", afirma.

Gregori esclarece que a humilhação no sadomasoquismo —prática em que há um mestre e um escravo— não é uma forma de abuso, mas, sim, um "descolamento do que está associado a violência e gênero, feito como paródia".

Trata-se um jogo de poder, e não um extravasamento da crueldade. E é ainda uma dinâmica de coisificação: os escravos são seres cobertos por vinil e látex, com adornos brilhantes, à mercê de seus mestres. Aproximam-se, assim, a objetos inanimados.

Prazeres Perigosos
Maria Filomena Gregori
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Por isso, Gregori propõe a revisão do conceito de objetificação. "Questiono se a relação entre sujeito e objeto deve ser entendida como uma relação entre passivo e ativo", diz. "Acredito que objeto possa ser sujeito. Tanto que há quem dê nomes a consolos."

PRAZERES PERIGOSOS
AUTORA Maria Filomena Gregori
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 69,90 (280 págs.)
LANÇAMENTO sexta (16), às 19h, na Livraria da Vila da Alameda Lorena - al. Lorena, 1731, tel. (11) 3062-1063


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