Folha de S. Paulo


CRÍTICA

'O Roubo da Taça' revela vida inteligente no humor nacional

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Créditos: Divulgação Legenda: Taís Araujo, em cena do filme
Taís Araujo em cena do filme "O Roubo da Taça"

Sem ser uma obra-prima, "O Roubo da Taça" revela vida inteligente na comédia brasileira contemporânea.

O filme toma um episódio verídico, o sumiço da taça Jules Rimet em 1983, e conta essa história acrescentando elementos grotescos com uma intenção abertamente crítica.

Símbolo da identidade nacional, a Jules Rimet foi roubada por ladrões de ocasião, pés-de-chinelo que se aproveitaram das inúmeras falhas de segurança da sede da CBF, comandada por vigaristas igualmente amadores. Como se vê, não há maniqueísmo na caracterização dos personagens. São todos encarnações impiedosas da mediocridade verde e amarela.

A figura central é Peralta (Paulo Tiefenthaler), um vendedor de seguros cheio de lábia e de ginga, mas tremendamente atrapalhado, que está sufocado por dívidas de jogo. E enfrenta outra pressão, exercida pela mulher, a vistosa mulata Dolores (Taís Araújo), com permanentes demandas de ordem material.

Para sair da encrenca, ele resolve surrupiar o troféu e chama o amigo Borracha (Danilo Grangheia) para a empreitada. Os problemas começam depois do roubo, e a dupla não consegue comprador para o objeto. Algumas figuras coadjuvantes se destacam, como o investigador Cortez (Milhem Cortaz) e o argentino Armando (Fabio Marcoff), com valiosas contribuições para manter o clima de esculhambação que nunca cai no gratuito.

A agilidade da narrativa não se mantém o tempo todo, mas não chega a comprometer o resultado. Por outro lado, a câmera que acompanha de perto os personagens é um traço de estilo inusual nas comédias atuais, e por isso muito bem-vindo, que faz com que os bons atores brilhem.

Falando nisso, quem rouba a cena é Tiefenthaler, que finalmente ganhou um papel à altura de seu talento, compondo um personagem indolente com muita competência. Seu desembaraço mostra uma autenticidade que o aproxima de um ícone da comédia brasileira: Hugo Carvana.

O ROUBO DA TAÇA
DIREÇÃO Caíto Ortiz
ELENCO Paulo Tiefenthaler, Danilo Grangheia, Taís Araújo
PRODUÇÃO Brasil, 2016, 12 anos
QUANDO estreia nesta quinta (8)


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