Mineira Marina Amaral resgata cenas históricas ao colorir fotografias em pb

Para Marina Amaral, fotos em preto e branco são como livros de colorir. Mas, em vez dos desenhos de jardins que fizeram sucesso no mercado editorial brasileiro em 2015, a mineira de 21 anos colore retratos de personalidades, como James Dean e Grace Kelly, e cenas de grandes acontecimentos históricos, como as guerras mundiais ou a coroação da rainha Elizabeth.

Autodidata e "sem conhecimento prévio em fotografia", Marina vem chamando a atenção de publicações estrangeiras ao divulgar pela internet imagens coloridas de registros até então conhecidos apenas em suas versões originais e, portanto, monocromáticas.

O cinza do uniforme de um militar que hasteia a bandeira americana numa cidade ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra, por exemplo, é meticulosamente substituído por um sutil verde oliva. Já a blusa de Elvis Presley em um retrato de 1968 ao lado de sua ex-mulher Priscilla ganha um azul potente.

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	Detentos no campo de concentração de Wobbelin, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial

	Detentos no campo de concentração de Wobbelin, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial

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	Soldado hasteia bandeira americana no Baixo Reno, cidade francesa que foi ocupada pelos nazistas

	Captain Thomas H.'' Garahan Waving The American Flag After The Liberation Of The City Of Bitche (Bas-Rhin), One Of The Last Pockets Occupied By The Germans In Alsace. On March 17, 1945.

Embora o processo de colorização de fotos não seja uma novidade, a "precisão obsessiva e as cores quase perfeitas", como definiu a revista americana de tecnologia e cultura "Wired", impressionam.

"Meu objetivo não é tentar substituir a foto original, mas a história nunca se desenvolveu em preto e branco", diz a mineira. "Quero oferecer uma oportunidade para as pessoas conhecerem aqueles eventos como realmente ocorreram."

Resgatar a história como de fato ocorreu é impossível, mas Marina se esforça para se aproximar das paletas de épocas passadas. Antes de iniciar a pintura, ela procura referências do maior número de itens presentes nas cenas.

Para a série de dez retratos dos conspiradores do assassinato do presidente norte-americano Abraham Lincoln, recorreu a transcrições de depoimentos dos acusados, nos quais buscou descrições das roupas que usavam naquele dia, além das cores dos olhos, cabelos e da pele de cada um.

Alterar "objetos e cicatrizes" e "modificar rostos" estão fora de questão, mas a mineira limpa danos causados pelo tempo, como manchas, rasgos e pedaços amassados. "Tudo muito sutil", afirma.

A energia gasta com a procura de detalhes em "milhares de sites, documentos e livros" só não é maior do que o tempo empregado na colorização de algumas imagens.

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	Garotos franceses em frente a tanque alemão durante a 2ª Guerra na região da Normandia

	Three French Boys Look At A Knocked-Out German Panther Tank In The Falaise Pocket. Near Falaise, Lower Normandy, France. 25th August 1944.

	UH/Folhapress
	O ex-presidente Getúlio Vargas recebe jogadores da seleção em fotografia colorizada a pedido da Folha

	Em cerimônia de recepção à Seleção Brasileira de Futebol campeã do 1º Torneio Panamericano de Futebol, em Santiago, no Chile, Getúlio Vargas entrega taça ao jogador Ademir Menezes, no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ), em 26 de abril de 1952. Presentes o ministro da Educação, Ernesto Simões da Silva Freitas Filho (barba branca) e Darcy Vargas. Durante a Era Vargas, o incentivo ao esporte, à educação, ao nacionalismo e às manifestações culturais coletivas (futebol, carnaval, samba) tornou-se uma política de Estado, com o objetivo de implementar o desenvolvimento econômico e social do país. Rio de Janeiro. RJ, 26.04.1952. (Foto: UH/Folhapress) ORG XMIT: AGEN1205032019325695 Foto foi colorizada por Marina Amaral a pedido da Folha.

Enquanto retratos simples podem ser concluídos em uma hora, uma foto complexa chega a levar meses até ficar pronta. "Uma pedrinha minúscula na areia pode ser colorida com cinco, seis camadas diferentes. É um processo lento e minucioso", explica Marina, que faz tudo no Photoshop, programa de edição utilizado desde os 11 anos de idade e que, diz ela, aprendeu a usar com a ajuda de cursos on-line.

Ela conta que as encomendas são, em grande parte, de pessoas que querem fazer exposições com fotos de quando suas empresas foram fundadas ou restaurar registros de família. Cenas de casamento, ressalta, são as mais comuns.

Os preços variam: vão de US$ 70 a US$ 300 dólares (entre R$ 220 e R$ 970), para os casos mais trabalhosos. Os valores são em dólares porque grande parte da clientela vem de fora do Brasil.

Em seus perfis no Twitter e no Facebook, já não há postagens em português. Mineira de Belo Horizonte, ela cursava Relações Internacionais na PUC, mas deixou a faculdade porque seus trabalhos começaram a ficar conhecidos -e ela sem tempo de estudar.

No começo, publicava as imagens colorizadas em fóruns de discussão de história. Depois, passou a divulgar com mais afinco em redes sociais, o que lhe rendeu até uma imagem republicada no Twitter pela atriz Mia Farrow.

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	Cena da coroação da Rainha Elizabeth 2ª, em 1953, na Abadia de Westminster

	Coronation Of Queen Elizabeth II. 2 June, 1953 in Westminster Abbey.

Segundo Marina, a repercussão do trabalho começou a ganhar força em março deste ano, quase um ano após começar a colorir "seriamente".

Os primeiros passos, a partir de tutoriais encontrados na internet, logo foram trocados por técnicas próprias. "Os tutoriais são extremamente básicos e só ajudam a começar. O resto foi desenvolvido com a prática."

A prática também fez com que Marina usasse apenas imagens de acervos livres de direitos autorais ou que foram cedidas pela pessoa que é legalmente dona da fotografia.

A condição é fundamental, uma vez que ela trabalha quase sempre em cima de registros históricos. "A cor nos aproxima da realidade e nos faz sentir que aqueles eventos ocorreram de verdade", diz.

"Às vezes olho para uma fotografia em preto e branco e não consigo me conectar com aquele evento, por parecer algo distante e quase irreal. Com as cores, essa barreira, na minha opinião, é quebrada."