Folha de S. Paulo


Crítica

Paulo Szot traz era de ouro da Broadway com 'My Fair Lady'

"My Fair Lady" é musical de referência da era de ouro da Broadway, com qualidade nas canções e no roteiro, que segue muito da comédia "Pigmaleão", de Bernard Shaw. Segue em especial –o que é acentuado na montagem– a luta de classes exposta no contraste entre ricos e pobres.

No musical como na peça, a trama central é a "educação" da florista Eliza para os gestos, os figurinos e cenários da alta sociedade. E o protagonista é o Higgins, filho de família aristocrática, porém acadêmico, que a "educa".

Felipe Gabriel/Folhapress
My Fair Lady, Paulo Szot e Daniele Nastri são os protagonistas do musical
Paulo Szot e Daniele Nastri protagonizam o musical 'My Fair Lady'

Mais importante, ele é um misógino, feito por Paulo Szot, o coração de "My Fair Lady", com caracterização cuidadosamente construída da aversão pelas mulheres.

O público cruza a apresentação à espera do momento em que Szot vai abrir sua belíssima voz de barítono, mas as canções de Higgins foram compostas para um ator que não cantava (Rex Harrison). O papel com que o brasileiro venceu como melhor ator da Broadway tinha canções para voz operística. Agora, não.

O efeito é um suspense, ao longo de "My Fair Lady", na esperança de ouvi-lo. Suspense que Szot acentua ao usar pequenos trechos das músicas faladas para enviar sinais do que pode alcançar.

Sua voz só vai se revelar por inteiro, engasgando o público, no final com "I've Grown Accustomed to Her Face". A canção de maior alcance reflete o trajeto do personagem: o professor Higgins começa contido, incapaz de reconhecer seu amor por Eliza, até por fim aceitá-lo.

Já Eliza é desde o princípio quem deixa escapar emoções, daí sua canção, arrebatando a plateia desde logo, "I Could Have Danced All Night", com os acordes mais célebres.

Reproduzindo parcialmente a trajetória na peça, a personagem é representada por uma atriz estreante. Daniele Nastri é bonita, delicada, emocionante. É um achado.

Como se trata de Shaw, é comédia com final não propriamente feliz. Em "Pigmalião" era até pior, mas em "My Fair Lady", quando Higgins parece caminhar para a aceitação de seu amor por Eliza, para uma união entre classes, ele vira o olhar e demanda que ela traga seus chinelos.

MY FAIR LADY
QUANDO qui. e sex., às 21h; sáb., às 17h e 21h; dom., às 16h e 20h
ONDE Teatro Santander, av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2.041, tel. (11) 4003-1022
QUANTO: de R$ 50 a R$ 260; livre


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