Folha de S. Paulo


Memórias da infância levaram cineasta a dirigir novo 'Star Trek'

Justin Lin tinha oito anos quando se mudou de Taiwan para os EUA com os pais. No sonho de construir uma vida melhor, os Lin abriram um restaurante de "fish and chips" (peixe e batata frita) em Anaheim, em Los Angeles. O casal trabalhava 12 horas e pedalava mais uma para casa, onde Justin ficava com o irmão mais novo. A família só se reunia depois do jantar, às 23h, quando a reprise da série "Jornada nas Estrelas" entrava no ar.

Aos 44 anos e requisitado pelos estúdios após salvar a franquia "Velozes e Furiosos", o cineasta diz que as memórias da infância foram essenciais para que aceitasse o convite para dirigir "Star Trek: Sem Fronteiras", o 13º longa de "Jornada nas Estrelas" e o terceiro depois da reimaginação feita por J.J. Abrams, em 2009.

"Planejava fazer um filme independente depois do último 'Velozes e Furiosos', quando recebi uma ligação de J.J. Abrams", diz à Folha. "Eu basicamente precisava criar 'Jornada nas Estrelas' em seis meses. Era insano, mas lembrei de como a série era especial e o desafio era válido. Aos oito anos, nos EUA, me sentia sozinho, e 'Jornada nas Estrelas' me ensinou que família ia além da ligação sanguínea."

Lin conseguiu entregar um dos longas de "Jornada nas Estrelas" mais elogiados dos últimos anos, mas não teve a mesma sorte com as bilheterias: com orçamento de R$ 185 milhões, "Sem Fronteiras" estacionou próximo dos US$ 150 milhões nos cinemas americanos e deve terminar a carreira no mundo todo perto dos US$ 300 milhões.

Apesar disso, um quarto episódio já foi confirmado por J.J. Abrams, o produtor da série, mas Lin não sabe se voltará. "Preciso dormir um pouco", brinca. "Sequências são coisas que você conquista, mas não sei se tenho outra ideia tão emocionante."

A tal "ideia emocionante" de "Sem Fronteiras" é a destruição da Enterprise (a quarta vez na história) já na primeira meia hora de filme, deixando a tripulação liderada por Kirk (Chris Pine) e Spock (Zachary Quinto) à deriva em um planeta inóspito.

"Foi uma discussão acalorada sobre em que momento isso deveria acontecer", diz o diretor. "Mas queria desconstruir a ideia do que é 'Jornada nas Estrelas' e refirmar as razões de amarmos tanto a série. Isso só seria possível eliminando o tecido que unia a tripulação: a Enterprise."

Segundo Lin, Abrams lhe teria aconselhado que "fosse ousado e fizesse um filme com sua personalidade". Isso aconteceu. As cenas de ação de "Sem Fronteiras" são as melhores da nova série e até os efeitos especiais da velocidade de dobra espacial ganharam novas cores.

"Ao assistir à série original, notei como eles já tinha feito tudo. Então quis buscar novos movimentos e ângulos que respeitassem os personagens."

E ele conseguiu. Há momentos emotivos no longa, principalmente por ter um tributo a Leonard Nimoy, que interpretou Spock na série original,morto em fevereiro de 2015. "Percebemos que seria uma forma de fechar o ciclo do personagem e de Leonard", diz Simon Pegg, corroteirista e intérprete de Montgomery Scott.

Além disso, um mês antes da estreia, a produção teve de lidar com a morte de Anton Yelchin, que interpretou Chekov, esmagado contra um pilar de casa pelo próprio carro.

"Ele não era apenas um bom ator, mas uma boa pessoa, que não perdia o sorriso nem mesmo filmando poucas falas às quatro da manhã", diz Lin, emocionado. "Quando soube da notícia, foi chocante. A primeira coisa que fiz foi rever tudo que filmamos com Chekov. Trouxe várias lembranças especiais."


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