Folha de S. Paulo


Depressão fez escritora best-seller Marian Keyes congelar carreira

Quando percebeu que passava por uma forte depressão, em 2009, a escritora irlandesa Marian Keyes, 52, já tinha mais de dez livros publicados –só seu romance de estreia, "Melancia", figurava na lista dos mais vendidos em diversos países e havia sido traduzido para mais de 20 idiomas.

"De repente, não conseguia nem escrever nem ler. No fim de uma frase, esquecia o que estava escrito no começo. Isso é a pior coisa do mundo para quem trabalha com palavras", disse Keyes à Folha.

A escritora veio a São Paulo para participar, no último domingo (28), da programação da Bienal do Livro.

28.ago.20 16/divulgaçã o
escritora irlandesa Marian Keyes fala na Bienaldo livro
A escritora irlandesa Marian Keyes fala na Bienaldo Livro de São Paulo

Durante os anos seguintes à descoberta da depressão, Keyes diz ter sentido um medo "paralisante", forte pânico e vontade de se matar. Sua carreira, que hoje contabiliza 33 milhões de exemplares vendidos, ficou três anos parada. "Hoje estou melhor, mas diferente. Meu cérebro costumava fazer conexões extremamente rápido. Agora, sinto-me mais lenta e velha."

A autora acaba de lançar no Brasil uma versão em capa dura de "Melancia", além de sua mais recente obra, "A Mulher que Roubou Minha Vida", ambos pela Bertrand Brasil.

O primeiro fala sobre uma mulher abandonada pelo marido após ter um filho, enquanto a nova história apresenta uma autora de best-seller completamente falida.

Keyes faz questão de dizer que a idade e a depressão, embora tenham deixado marcas, não são episódios completamente negativos em sua vida. "Passei a escrever o que quero, sem medo de desapontar ou ofender as pessoas. Em certo sentido, a depressão me trouxe liberdade. O mesmo ocorreu com a idade. Estou prestes a completar 53 anos. E, à medida que envelheço, me importo menos com as coisas à minha volta. É como se me tornasse invisível. E pessoas invisíveis podem fazer o que bem entenderem."

Quem praticamente não envelheceu foram os seus leitores. Os fãs da autora de "Melancia" são, em sua maioria, meninas adolescentes descobrindo a vida adulta ou mulheres jovens que se identificam com os problemas dos personagens das histórias –da depressão pós-parto ao alcoolismo.

Na Bienal não foi diferente. Quando uma jovem pegou o microfone e fez um discurso feminista sobre os livros de Keyes, a escritora ficou visivelmente emocionada. Pouco antes, ela havia rechaçado o rótulo "chick-lit" (literatura mulherzinha), que costuma ser atribuído a sua obra.

Melancia
Marian Keyes
l
Comprar

"É machista usar essa expressão. Não me ofende pessoalmente, mas é machista. Tratam esses livros como se fossem menores por terem sido escritos por mulheres. Gostam de dizer que é uma bobagem", disse no evento.

Se o público de Keyes pouco envelheceu nos últimos anos, o mesmo não pode ser dito de seus personagens. Seu próximo protagonista terá 44 anos. "Não consigo mais escrever como uma mulher de 30. Minhas referências mudaram. Não sou mais uma solteira comprando sapatos com o dinheiro do aluguel –embora às vezes tenha saudade", conta, aos risos.

MELANCIA e A MULHER QUE ROUBOU A MINHA VIDA
AUTORA Marian Keyes
EDITORA Bertrand Brasil
QUANTO R$ 69,90 ('Melancia', capa dura; 480 págs.) e R$ 49 ('A Mulher que Roubou...', 476 págs.)


Endereço da página:

Links no texto: