Motivo de debates apaixonados após sua primeira temporada, em 2015, "Narcos" volta ao ar nesta sexta (2) com mais dez episódios, alguns reparos e o mesmo sotaque pan-latino que incomodou alguns (perdoável diante das atuações impecáveis).
Em seu segundo ano, o drama centrado na ascensão e na queda do megatraficante colombiano Pablo Escobar (1949-1993) retoma a narrativa a partir de sua fuga da prisão, em 1992 –o último ano e meio do chefão. Esta resenha evita "spoilers" e trata dos três primeiros episódios.
Se a primeira temporada atraiu críticas pelo ponto de vista majoritariamente americano, desta vez a história é contada de forma mais difusa. A narração do agente Murphy (Boyd Holbrook), o enviado do departamento antinarcóticos dos EUA, continua lá, mas o foco não reside exclusivamente na contraposição entre Escobar e os EUA.
O papel do governo colombiano, da polícia do país, dos usuários de drogas americanos e, sobretudo, o efeito da "guerra às drogas" nas ruas da Colômbia ganham peso.
É possível ler de forma explícita críticas ao papel do imenso mercado consumidor dos EUA, bem como questionamentos à truculência da polícia local, sempre sob atentos olhos americanos.
Nesse sentido, há momentos que lembram muito "Tropa de Elite", embora o brasileiro José Padilha esteja só na produção executiva –a direção coube ao mexicano Gerardo Naranjo, ao colombiano Andrés Baiz e ao americano Josef Kubota Wladyka.
A ação da polícia em conjunto com os inimigos de Escobar no narcotráfico, conhecidos como os Pepes (Pessoas Perseguidas por Escobar), e a vida familiar do chefão, com papéis crescentes para sua mãe (Paulina García) e sua mulher (Paulina Gaitan), trazem nuances importantes ao roteiro, subtraindo qualquer ranço maniqueísta.
O ritmo, porém, perde um pouco em relação à frenética primeira temporada, ainda que as cenas de ação sigam a mesma matriz.
Ainda assim, "Narcos" continua uma lição essencial da história recente das Américas, no momento em que a Colômbia parece fechar um capítulo sangrento (o conflito civil entre guerrilha e governo) em muito explicado pelas mesmas razões que fizeram explodir o narcotráfico e figuras como Escobar.