Folha de S. Paulo


Nelson Freire realiza dois recitais com repertórios nostálgicos em SP

A nostalgia parece ser a batuta que rege Nelson Freire, dono da alcunha de melhor pianista brasileiro da atualidade, hoje aos 71 anos. "Acho que faz parte da minha personalidade", endossa o próprio à Folha, em uma de suas raras entrevistas.

É movido por ela que o pianista interpreta, como atração da Temporada 2016 do Mozarteum Brasileiro em dois recitais na Sala São Paulo, nesta terça (30) e nesta quarta (31), obras que o acompanham em uma trajetória de mais de seis décadas.

"Quando você vai ficando mais velho você vai se apegando às coisas do passado, aos velhos amigos, a mesma coisa acontece com o repertório, ele é como a sua família", diz o pianista mineiro.

Leo Pinheiro/Valor
Data: 11/08/2014 Editoria: Cultura Reporter:Robinson Borges Local: Rio de Janeiro, RJ Pauta: Entrevista com pianista Nelson Freire Setor: Musica Personagem: Nelson Freire, pianista, fotografado na casa dele na Joatinga Tags: jardim, piano, barba, azul Fotos: Leo Pinheiro/Valor ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS***
O pianista Nelson Freire em sua casa na Joatinga, região oeste do Rio de Janeiro

A "Piano Sonata Nº 3 em Fá Menor", op. 5 do compositor alemão Johannes Brahms (1833-1897), por exemplo, visita seu repertório há pelo menos 50 anos, desde que a apresentou em sua estreia na Academia de Música de Viena, em 1960, àquela época com 15 anos.

Outras, como "Children's Corner", de Claude Debussy (1862-1918), e três dos corais de Johann Sebastian Bach (1685-1782) –"Eu Vos Envoco, Senhor, BWV 639", "Vem, Deus, Criador, BWV 667" e "Jesus, Alegria dos Homens, BWV 147"–, foram tocadas por Freire um ano antes, em um recital de despedida do jovem músico que embarcava para estudar na Europa.

Elas são revisitadas no recital de terça, juntamente a duas obras de Chopin (1810-1849), nome ao qual o brasileiro é comumente atrelado.

No dia seguinte, o pianista retorna ainda mais ao tempo e exibe "Três Danças Fantásticas", de Alexander Scriabin (1872-1915), que tocou em seu primeiro recital, aos oito anos, e "Sonata em Lá Maior", KV 331 de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), cujos movimentos Freire já esboçava aos 4 anos de idade. As obras escolhidas contornam o momento em que o pianista era noticiado como o "menino prodígio".

Mesmo sendo conhecidas de longa data, o intérprete não subestima a dificuldade dos programas: "As coisas não ficam mais fáceis com o tempo", diz, evidenciando a dificuldade em executar repertórios diferentes em dias consecutivos –um afago ao "fiel público paulistano".

"É nesse sentido que a arte se diferencia do resto, a gente sempre pode progredir, não chega a um máximo, aí é que está a beleza.".

LEMBRANÇAS

"Me contaram que quando eu era muito pequenininho, com cerca de 3 anos, eu anunciava as minhas necessidades fisiológicas cantando valsas, como a de 'A Ponte de Waterloo'", diverte-se, entoando os versos com a melodia.

Não por acaso o talento de Freire foi reconhecido desde cedo. Apostando nele, sua família deixou a cidade de Boa Esperança, em Minas Gerais, para que ele pudesse se aprimorar no Rio de Janeiro.

Prolífico na música, mas econômico nas palavras, o pianista se desvencilha da entrevista, após realizar a retrospectiva que originou os programas: "Se andar muito [ao passado], vou nascer de novo", brinca.

*

NELSON FREIRE
QUANDO Ter. (30) e qua. (31), às 21h
ONDE Sala São Paulo, praça Júlio Prestes, 16, Campos Elíseos, São Paulo, tel. (11) 3367-9500
QUANTO R$ 80 a R$ 500
CLASSIFICAÇÃO 7 anos


Endereço da página: