Folha de S. Paulo


Ingra Lyberato deixa comissão do Oscar após polêmica com 'Aquarius'

A atriz Ingra Lyberato deixa oficialmente a comissão que vai definir o filme brasileiro do Oscar, composta por nove integrantes escolhidos pela Secretaria do Audiovisual, braço do Ministério da Cultura.

A decisão foi publicada pela atriz em seu perfil de Facebook na manhã de sexta (26), e é divulgada horas depois de outra postagem, em que Lyberato fez um desabafo sobre a polêmica envolvendo o filme "Aquarius".

No texto mais recente, ela diz que a decisão foi tomada depois que alguns "filmes preciosos" foram retirados da disputa por seus diretores. Ela se refere à controvérsia em torno do comitê, instituído pela Secretaria do Audiovisual, que é alvo de grita no meio cinematográfico. Isso porque um dos membros, o crítico Marcos Petrucelli, é um notório opositor ao diretor Kleber Mendonça Filho, de "Aquarius".

A polêmica foi antecipada pela coluna "Sem Legenda", da Folha.

Desde que o filme de Mendonça Filho estreou no Festival de Cannes, em maio, o diretor é alvo de postagens ofensivas por parte de Petrucelli. Durante o festival francês, o cineasta e a equipe de "Aquarius" empunharam cartazes contra o impeachment de Dilma Rousseff com os seguintes dizeres: "Um golpe está acontecendo no Brasil".

Petrucelli escreveu que "vergonha é o mínimo que se pode dizer" do ato. Quando o crítico foi nomeado para a comissão do Oscar, três meses depois, o meio cinematográfico reagiu com enormes críticas.

Gabriel Mascaro ("Boi Neon") e Anna Muylaert ("Mãe Só Há Uma") desistiram de inscrever seus filmes para análise da comissão, e Guilherme Fiúza Zenha, um dos integrantes, pediu seu desligamento por "motivos pessoais".

A atriz escreve ainda que está "diante da minha classe insatisfeita e clamando por justiça", em referência ao afastamento da Dilma Rousseff e a instalação do governo interino. Na nota, ela diz ainda: "Sou contra o golpe que impediu e retirou o governo eleito democraticamente de suas funções".

Ela aponta que, "como a comissão tem sua legitimidade questionada por grande parte de nossa classe, me retiro em respeito a minha própria tribo".

AMBIENTE DE PRESSÃO'

O Ministério da Cultura divulgou nota na tarde de quinta (25), reiterando sua "confiança na comissão de seleção do filme" e na "isenção do processo de escolha".

"A comissão é formada por nomes de reconhecida reputação e conhecimento técnico, que passaram, inclusive, pelo crivo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Destaca-se que a seleção do filme representante será feita à margem de critérios de natureza política, sendo inócua a criação de ambiente de pressão ou constrangimento com vistas a favorecer ou prejudicar qualquer produção. Passada a etapa de seleção, o Ministério estará engajado na torcida para que nosso filme figure entre os cinco finalistas."

Já Petrucelli afirma que não tem "nada contra o filme", mas contra as posições políticas do diretor. À reportagem, ele disse que não queria comentar a polêmica, mas lamentou que Mascaro e Muylaert tenham deixado de inscrever seus longas. "Perderam uma grande oportunidade".

Outros membros da comissão, composta por nove pessoas, disseram que a escolha não será "partidarizada".

CONTINUAM NA DISPUTA

Pelo menos quatro outras produções continuam no páreo, além de "Aquarius": "Nise", de Roberto Berliner, "Tudo que Aprendemos Juntos", de Sérgio Machado, "Mais Forte que o Mundo", de Afonso Poyart, e "Pequeno Segredo", de David Schurmann.

"Sou solidário a Kleber, temos as mesmas posições políticas", diz Berliner. "Mas em princípio estou mantendo a inscrição. Acho que nós cineastas deveríamos nos unir contra a nomeação [de Petrucelli], e não retirar os filmes."

Poyart e Schurmann afirmaram que confiam em seus respectivos longas. Caio Gullane, produtor de "Tudo Que Aprendemos Juntos", também diz que irá se manter no certame.

Guilherme Fontes diz que também pretende inscrever "Chatô".

Filmes - Oscar


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