Folha de S. Paulo


'Nise: o Coração da Loucura' continua na disputa por indicação ao Oscar

Divulgação
Cena do filme
Cena do filme 'Nise: O Coração da Loucura', inscrito para a seleção ao Oscar

"Nise: O Coração da Loucura" continua na disputa por uma indicação ao Oscar, mesmo em meio à polêmica envolvendo a legitimidade da seleção do filme brasileiro que irá concorrer à premiação. Em entrevista à Folha, o diretor Roberto Berliner afirmou manter a inscrição de sua obra.

"O que os cineastas concorrentes deveríamos fazer é nos unir contra o comportamento de um crítico que se mostrou parcial, e não retirar o filme", disse o cineasta, referindo-se à postura do crítico paulista Marcos Petrucelli, um dos integrantes da comissão que vai determinar que filme brasileiro tentará uma vaga no Oscar 2017.

Como antecipou a coluna "Sem Legenda ", Petrucelli já usou seus perfis em redes sociais para ironizar o diretor Kleber Mendonça Filho, de "Aquarius", cujo elenco protestou alegando golpe no Brasil, durante passagem em Cannes.

"Sou solidário ao Kleber, compartilho das mesmas posições políticas dele, mas não acho correto que os concorrentes tirem seus filmes", disse Berliner.

O diretor antecipou à reportagem a seguinte declaração que pretende divulgar ainda nesta quinta:

Repudio a lamentável postura de um dos membros da comissão responsável por selecionar o filme brasileiro indicado ao Oscar 2017. Este cidadão tem feito declarações infelizes atacando o filme "Aquarius". Sou solidário à equipe do filme e ao diretor, Kleber Mendonça Filho, tanto em relação à sua posição política quanto em relação à liberdade de manifestação. Eu sou contra o impeachment, sou contra o golpe, portanto, fora Temer! Mas, por respeito à história da Nise, à equipe do filme, aos milhares de espectadores, aos outros jurados e demais concorrentes, considero importante manter "Nise - O Coração da Loucura" na disputa. Pela confiança no filme que fizemos e pela importância de levar essa história ao conhecimento do maior público possível. Proponho que nós, cineastas concorrentes, nos unamos para tentar a retirada desse membro da comissão que indicará o representante brasileiro ao invés da retirada de filmes da competição.

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Nesta quarta-feira (24), os cineastas Gabriel Mascaro, de "Boi Neon", e Anna Muylaert, de "Mãe Só Há Uma", retiraram seus filmes da seleção brasileira, em solidariedade a "Aquarius", o favorito à disputa. "Achamos que este é o ano de 'Aquarius'. É o filme certo", disse Muylaert.

Em seguida, o diretor e produtor mineiro Guilherme Fiúza Zenha, um dos nove integrantes da comissão do governo, anunciou que não irá mais participar do comitê "por questões pessoais".

FILMES NA DISPUTA

Outro dos longas inscritos é o drama social "Tudo que Aprendemos Juntos", de Sérgio Machado. Caio Gullane, produtor do longa, diz que ainda não estuda retirar a inscrição do longa.

Afonso Poyart, diretor de "Mais Forte que o Mundo - A História de José Aldo", disse que também vai se manter na disputa. "Por que tirar o filme? Acredito nele. Respeito a atitude [dos outros diretores], mas não pretendo retirar. A decisão é do comitê", disse Poyart.

Outro concorrente, "Pequeno Segredo", também continua. "Ele tem uma temática que pode interessar ao Oscar. Investimos muito tempo e paixão para fazer um filme tecnicamente impecável e emocionante", disse o diretor David Schurmann.

O drama "Pequeno Segredo", que ainda não estreou no país, é baseado na própria história da família do diretor, os Schurmann, a famosa família brasileira de velejadores. O conflito da trama gira em torno da adoção de Kat, irmã de David, que era soropositiva e acabou morrendo após rodar o mundo com a família adotiva.

'COMISSÃO É TÉCNICA'

Petrucelli, que não viu "Aquarius" quando foi nomeado, afirma que não tem "nada contra o filme", mas contra as posições políticas do diretor. À reportagem, ele disse que não queria comentar a polêmica, mas lamentou que Mascaro e Muylaert tenham deixado de inscrever seus filmes. "Perderam uma grande oportunidade".

O Ministério da Cultura divulgou uma nota em seu site, afirmando "a confiança na capacidade e na isenção da comissão escolhida pela Secretaria do Audiovisual".

"A escolha do filme atende a critérios estritamente técnicos", informou.


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