Folha de S. Paulo


Livro de Jorge Caldeira retrata 101 brasileiros que fizeram história do país

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Retrato de Sebastiana, garota mestiça que viveu na Chapada dos Guimarães no século 19, feito pelo francês Aimé-Adrien Taunay
Sebastiana, que viveu na Chapada dos Guimarães no século 19, pelo francês Aimé-Adrien Taunay

Ao aceitar a tarefa de retratar 101 brasileiros que construíram a história do Brasil, o jornalista e cientista político Jorge Caldeira, 60, saberia o tipo de cobrança que receberia.

"Tinha certeza de que mal iriam falar dos 101, mas sim questionar quem não entrou. Já que eu ia ter de pagar esse preço, fiz uma escolha pessoal", conta à Folha.

O critério foi mostrar a multiplicidade cultural e étnica do país, misturando personagens célebres como Dom Pedro 2º, José Bonifácio ou Getúlio Vargas com escolhas menos óbvias, como Afonso Ribeiro, o degredado que desembarcou com Pero Vaz de Caminha quando as naus de Pedro Álvares Cabral chegaram ao Brasil.

Ribeiro recebeu como missão viver um tempo nas novas terras e, assim, foi pioneiro no intercâmbio de culturas que formaria o país.

Outro exemplo é Sebastiana, uma garota mestiça que viveu na Chapada dos Guimarães no século 19, quando foi retratada pelo francês Aimé-Adrien Taunay. Enquanto o pintor morreu afogado semanas depois, o quadro de Sebastiana hoje está exposto em São Petesburgo.

Caldeira explica porque Sebastiana é a capa de seu livro. "Ela era o tipo brasileiro médio daquele tempo, uma mescla de raças, vivendo num período em que o Brasil deixava de ser Colônia e em que a palavra 'brasileiro' estava mudando de sentido na história."

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Utensílios dos índios Mura em imagem reproduzida no livro
Utensílios dos índios Mura em imagem reproduzida no livro

O livro também privilegia trajetórias sociais distintas que foram permitidas pelo contexto da formação do país. Como a de João Ramalho, nascido em Portugal em 1493 e que largou a vida na Europa para misturar-se aos indígenas na região de São Vicente, ocupou cargos administrativos, viajou pelo interior, passou um tempo na incipiente São Paulo, teve várias mulheres, e morreu aos 90, sempre preferindo estar no meio do mato.

"O de João Ramalho é um percurso extremo que mostra como a questão multicultural é essencial na nossa história", diz Caldeira.

Também há trajetórias inversas, como a da indígena tupinambá Guaibimpará, no século 16, que por conta dos casamentos de aliança de sua tribo une-se ao branco Diogo Álvarez Correia. Ele a leva para a Europa. De volta ao Brasil e depois de ficar viúva, Guaibimpará passa a gerir a fortuna do marido e vira uma figura de prestígio na sociedade baiana.

Caldeira se diz feliz com as escolhas, apesar das críticas sobre quem não foi escolhido. No posfácio, conta como, durante o trabalho, esperava aterrado a ligação de sua tia Odete, de 91 anos, cobrando a inclusão do herói familiar José Pires do Rio, que foi prefeito de São Paulo nos anos 20.

De fato, seu nome não consta entre os 101, mas sua história está ali de alguma forma. Afinal, para ter certeza de que seus livros são acessíveis, Caldeira tem como termômetro sua tia Odete, e conta que chega a reescrever trechos inteiros de seus livros para ter certeza de que ela os entenderá.

Desta vez, está confiante de que cumpriu a função.

101 BRASILEIROS QUE FIZERAM HISTÓRIA
AUTOR Jorge Caldeira
EDITORA Estação Brasil
PREÇO R$ 49,90 (232 págs.)
LANÇAMENTO ter. (23), às 19h30, na Saraiva do shopping Pátio Higienópolis (av. Higienópolis, 618, região central de São Paulo)


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