Folha de S. Paulo


Comissão brasileira do Oscar nega partidarização em escolha de indicação

O Fla-Flu partidário respingou na comissão que escolherá qual filme nacional tentará a vaga brasileira no Oscar.

Alvo de controvérsia em fóruns especializados, o grupo, instituído no começo do mês, inclui um opositor notório a um dos diretores favoritos à vaga, o cineasta Kleber Mendonça Filho, e acumula críticas no meio de que a escolha do filme poderá ser pautada por critérios ideológicos.

Quem institui a comissão é a Secretaria do Audiovisual, subordinada ao Ministério da Cultura do governo interino. E "Aquarius", de Mendonça Filho, estampou o noticiário pelo protesto anti-impeachment encampado pela equipe do filme no Festival de Cannes, em maio deste ano.

Na ocasião, o crítico paulista Marcos Petrucelli atacou o ato: "Vergonha é o mínimo que se pode dizer", escreveu no Facebook. Sua posterior nomeação pelo governo foi o cerne da controvérsia, conforme noticiado pela coluna "Sem Legenda", da Folha.

Ouvidos pela reportagem, membros da comissão dizem que a polêmica não tem base.

"Esse debate não chegou até mim", diz Adriana Rattes, uma das integrantes do grupo. "Kleber é um cara que eu adoro e que tem o direito de fazer o ato que fez. Dizer que vai ter viés na escolha é um absurdo", diz a ex-secretária estadual de Cultura do RJ, indicada à comissão pela Academia Brasileira de Cinema.

Beto Rodrigues, produtor gaúcho, participa do grupo pela segunda vez. "O elemento político não vai ter peso no júri. Os critérios vão ser artísticos, de tentar entender a cabeça da Academia do Oscar."

"A partidarização seria a devassa completa. Da minha parte não vai haver", diz Guilherme Fiúza Zenha, produtor mineiro que não soube dizer como seu nome foi escolhido.

Petrucelli se manifestou dizendo que não tem objeções a "Aquarius", mas às posições do diretor. Ele também contesta que o longa seja "candidato natural" à vaga.

Nenhum dos quatro integrantes viu o filme "Aquarius", que estreia em 1º de setembro. No dia 12 do mesmo mês o grupo se reúne, no Ministério da Cultura, para debater que longa escolherão.

A comissão inclui ainda Sylvia Naves, funcionária da Secretária do Audiovisual, George Torquato Firmeza, do Departamento Cultural do Itamaraty, a atriz Ingra Liberato e o exibidor Paulo Menelau –os dois últimos, tal como Zenha e Petrucelli, já participaram do Cine PE, festival de cinema criado por Alfredo Bertini, secretário do Audiovisual.

Em nota, a assessoria de imprensa do Ministério da Cultura informa que "cabe à Secretaria do Audiovisual a indicação de nomes" e que "a escolha se deu após ouvidas entidades representativas do setor –que indicaram diretamente dois nomes– e com base em critérios como diversidade regional e representação de todos os segmentos da cadeia produtiva da indústria".

Ex-secretário do Audiovisual, na gestão Marta, Leopoldo Nunes diz não se lembrar de outro caso em que a escolha da comissão tenha gerado controvérsia. "Mas o nome dele [de Petrucelli] poderia ser substituído porque é notório que ele não é imparcial."


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