Folha de S. Paulo


Arquiteto Marko Brajovic lança livro sobre dez anos de seu ateliê no país

Carolina Krieger
Designer croata radicado no Brasil desde 2016, Marko Brajovic lança livro
Designer croata radicado no Brasil desde 2006, Marko Brajovic lança livro neste sábado (13)

"In Nature We Trust' (na natureza nós acreditamos). Um contraponto ao lema estampado na moeda americana batiza o livro em que o arquiteto e designer croata Marko Brajovic retrata a experiência dos dez anos de seu ateliê no Brasil, de 2006 até agora.

O lançamento será neste sábado (13), na Vila Madalena, em São Paulo (leia abaixo).

O volume traz cenografias de exposições, como o da mostra recorde de público sobre David Bowie, em 2014, no MIS (Museu da Imagem e do Som), projetos para eventos, entre eles o pavilhão do Brasil na Expo-Milão de 2015 e a São Paulo Fashion Week, além de lojas e objetos.

Mas não se trata de um catálogo. A seleção evidencia os projetos em que há metáforas, mecanismos ou estratégias de design inspiradas na natureza, o que é, resumidamente, conhecido como biomimética.

Além de documentar os projetos, o livro funciona como um manual. Lista soluções formais e de materiais relatando experiências técnicas, entre elas as realizadas com as chamadas arquiteturas vivas.

"Nosso desejo é fazer 'crescer' componentes. Para isso, estamos testando manipulações físicas com bambu, a fim de direcionar o crescimento do organismo vivo. A modelagem de plantas em crescimento é conhecida desde tempos ancestrais, como no caso das 'pontes vivas' feitas pelo povo Khasi em Meghalaya, na Índia'', escreve Brajovic.

O volume traz também um manifesto dessa abordagem inspirada em processos naturais, detalhando conceitos de mutualismo, metamorfose, resiliencia, mimetismo, evoluc'ao e auto-organizac'ao.

A arquiteta Federica Sandretti fez a concepção visual, a curadoria dos projetos e a apresentação. "Optei por uma estrutura narrativa descentralizada para o livro, porque na arquitetura a transmissao de conhecimento se da atraves de rascunhos, simbolos, diagramas e especificac'oes tecnicas. A ideia e que cada leitor possa criar seu proprio fluxo de informac'ao", escreve ela.

SEM BARREIRAS

O livro não impõe barreiras a quem não é especialista. "Não parto de uma discussão teórica e sim vou explicando como cada aspecto foi escolhido e pensado. O que me interessa é que o livro inspire e liberte. Que as pessoas que vão trabalhar com áreas cada vez mais híbridas possam ter mais liberdade experimental", diz Brajovic.

Enquanto toca projetos de um ecoresort em Bali e de duas lojas –Hermés no Rio e Camper em Milão–, o ateliê de Brajovic se prepara para instalar no fim de setembro um contêiner para campanha Caminho da Vacina, projeto itinerante do Médicos sem Fronteiras. O local escolhido é a rua do Futuro, no Parque da Jaqueira, em Recife.

"Em um jogo, contamos como é difícil a chegada das vacinas nos locais onde ela são mais necessárias, andando de avião, a pé, de barco, em recipientes gelados. É uma saga", diz. "Gostamos de trabalhar temas difíceis, envolvendo as pessoas em uma história."

A seguir, trechos da entrevista com Marko Brajovic.

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Você escreve que a arquitetura atual é "ainda" mecânica, baseada em hierarquias piramidais. E o que vem depois?
A arquitetura reflete a sociedade. As hierarquias piramidais derivam do peso e seu sistema de valores, como a gravidade e a resolução de forças de cima para baixo. O mesmo ocorre na estrutura econômica e industrial, na distribuição e na organização do trabalho. Por exemplo, a arquitetura moderna celebra a força do concreto, das grandes estruturas, dos desafios mecânicos da engenharia. Nesta época que estamos vivendo ou que está chegando, como dizia Italo Calvino [1923-1985], o paradigma é o da leveza. As arquiteturas dos anos 1960 já imaginavam novas estruturas. Foi o que fez Buckminster Fuller [1895-1983], por exemplo. O pensamento das sinergias de redes, da não centralidade, de leveza, de componentes que trabalham juntos para manter uma forma de maneira compartilhada.

Qual é a oposição entre essas vertentes?
Você tem um plano diretor de uma cidade, fruto de uma visão piramidal, de cima para baixo, um urbanismo que quer impor um desenho mecânico. Em contraposição, uma visão mais orgânica seria a modelagem de propostas de baixo para cima, em que cada experiência pontual com os moradores de uma determinada região ativa aquele bairros. São acupunturas urbanas, microestruturas e as relações que elas criam entre si e como interagem. Não podemos confundi-las com criacionismo, de imaginar que há perfeição nos organismos. Eles não são perfeitos. Vão se modificando e adaptando. Mas, em vez de determinar um padrão único de calçadas, deixar que as pessoas se organizem, que façam projetos regionais e busquem soluções. No nosso projeto NSDC, pegamos grades de parques e fizemos bancos. As grades que segregavam e separavam se transformaram em bancos para convivência.

Suas exposições propõem imersão e interação. Você capta de fato a resposta do público? De que forma, e como a usa?
Cada projeto exige suas soluções, mas todos moldam narrativas através de experiências sensoriais. De maneira informal, logo que abrimos uma mostra, a equipe observa as pessoas se comportando nos espaços. Com isso, vamos afinando a nossa percepção do espaço, dos tamanhos, das proporções das mostras. O tempo é uma das preocupações. Temos pensando sempre que as mostras têm de permitir pelo menos dois tipos de visitação: uma mais curta, digamos, de dez minutos, e outra mais lenta, de 50. Quem fica 50 pode ser capturado e enviado para um local de leitura de textos mais detalhados, com letras menores, que exigem mais calma. São afinações que vão acontecendo.

IN NATURE WE TRUST
AUTOR Marko Brajovic
CURADORIA E PROJETO Federica Sandretti
QUANTO R$ 150 (240 págs.)
LANÇAMENTO 13 de agosto, com palesta às 15h e sessão de autógrafos a partir das 16h
ONDE Ebac (Escola Britânica de Artes Criativas), r. Mourato Coelho, 1.404, Vila Madalena, São Paulo, tel. (11) 3030-3200


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