Folha de S. Paulo


E o Oscar vai para... o melhor filme brasileiro com chance real

A coluna "Sem Legenda" do dia 4 de agosto publicou um texto intitulado "Crítico contrário a Kleber Mendonça Filho vai integrar comissão do Oscar. A mencionada comissão que irá definir qual produção representará o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar de Filme Estrangeiro em 2017 é uma equipe de profissionais do audiovisual e escolhida pela Secretaria do Audiovisual, do Ministério da Cultura.

Publicada no "Diário Oficial", a comissão apresenta nove pessoas. Nove! Mas a reportagem desta Folha preocupou-se apenas com um crítico: eu, Marcos Petrucelli. Sou comentarista de cinema que há 12 anos trabalha para a Rádio CBN, do Sistema Globo de Rádio, e vez por outra colabora com a GloboNews.

Kleber Mendonça Filho é o diretor do longa "Aquarius", que concorreu à Palma de Ouro no último Festival de Cannes, mas na ocasião ficou famoso mesmo por levantar cartazes com a inscrição "Golpe no Brasil".

Kleber, que apoia Lula e Dilma, defende a narrativa do tal golpe. Eu não! A contrariedade deste crítico em relação ao cineasta acaba aqui.

Falemos então de cinema. É verdade que "Aquarius" recebeu elogios e críticas positivas. Só que não ganhou nada na Riviera. Mas como foi exibido em Cannes, como fez questão de lembrar o repórter da "Ilustrada" Guilherme Genestreti, o filme seria o "candidato natural" para a disputa do Oscar.

Sério? Desde quando isso é uma regra? Posso admitir, nesse caso, que eu e meus companheiros de comissão não precisamos ao menos assistir ao filme, correto?

Não, não é correto. Eu ainda não vi o filme e, por isso, não posso julgá-lo. Só posso afirmar que "Aquarius" é tão favorito e candidato natural a uma indicação quanto todos os outros filmes brasileiros que ainda irão se inscrever.

O problema é que a esquerda cinematográfica, a turma do realismo lulista no cinema nacional, busca incessantemente patrulhar e se vitimizar. E para ser a vítima é preciso encontrar o culpado. Seguindo esse raciocínio, o crítico que faz parte da mídia golpista tornou-se o malvado favorito... Ou temido! Se "Aquarius" não for para o Oscar, é óbvio que a culpa será minha.

Faço a cobertura dos prêmios da Academia há mais de 20 anos. E já estive no Oscar, em Los Angeles, cinco vezes. A primeira vez foi quando "Central do Brasil" concorreu nas categorias de Filme Estrangeiro e Atriz (Fernanda Montenegro). Estava lá também quando Fernando Meirelles, com seu "Cidade de Deus", disputava quatro estatuetas. Conheço, portanto, muito bem o Oscar e a mentalidade da Academia.

Não aceitei fazer parte da comissão do Ministério da Cultura para escolher apenas o melhor filme brasileiro. Quero poder escolher o melhor filme brasileiro que tenha chances reais de ganhar o Oscar.

Uma estatueta, aliás, que praticamente todos os cineastas brasileiros costumam renegar. Afinal, trata-se de um prêmio oferecido justamente pelo imperialismo americano e tão abominado pela esquerda.


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