Folha de S. Paulo


Cachorro Grande investe em som pesado em seu 8º disco, 'Electromod'

Nação Zumbi é maracatu. Os Paralamas tocam reggae e ska. Planet Hemp trilha o hip-hop. Skank faz dancehall. Los Hermanos pode ser MPB.

No país da miscigenação musical, o rock, rock mesmo, ficou para poucos puristas. Nomes como Raul Seixas, Legião Urbana, Camisa de Vênus e... Cachorro Grande.

"Se você escuta a vida toda Rolling Stones, Beatles, Bob Dylan, Oasis, e não quer ouvir outra coisa, por que vai querer tocar diferente?", pergunta o vocalista Beto Bruno, diante de uma prateleira de LPs em sua casa, no bairro da Vila Mariana, em São Paulo.

Apenas a "seção" dedicada aos Rolling Stones é mais numerosa do que muita coleção completa de pessoas, digamos, normais. Mas os gaúchos da Cachorro Grande não são exatamente normais.

Desde que trocaram Porto Alegre por São Paulo, há cerca de dez anos, são figuras manjadas nos endereços roqueiros da cidade. Por dois motivos. Primeiro, fazem muitos shows. Segundo, são facilmente reconhecidos quando andam em grupo, com terninhos, botas e boinas saídos direto da Beatlemania.

Mas 2016 é um ano para deixar os Beatles de lado. O tema preferido da banda nos últimos meses é Rolling Stones. Em abril, o grupo foi escalado para abrir o show dos ingleses em Porto Alegre. E no estádio Beira-Rio, do Internacional, clube do coração da maior parte da banda.

"Foi um sonho completo. Em 2009, a gente abriu para o Oasis no Gigantinho, ginásio ao lado do estádio. E na saída eu falei: 'Melhor que isso só se a gente abrisse pros Stones no Beira-Rio'. E todo mundo riu na minha cara. Olha só no que deu", conta Beto Bruno à Folha.

RUPTURA

"Costa do Marfim", CD de 2014, mostrava uma ruptura com a discografia da banda. Em seus seis primeiros álbuns, a Cachorro Grande tinha passado de um iê-ie-iê entre o rock de três acordes e o blues acelerado para uma pegada mais setentista, quase um salto de Paul McCartney para Jimmy Page.

A surpresa do disco era o som viajandão, rock psicodélico em músicas longas. "Se a gente fosse o [grupo eletrônico alemão] Kraftwerk iríamos soar assim", brincou o guitarrista Marcelo Gross.

Já o novo trabalho, "Electromod", oitavo disco de estúdio da Cachorro, é uma evolução do anterior. Sai um pouco da psicodelia e entra guitarra suja e bateria mais barulhenta. Tudo mais pesado, intenso. "Um amigo disse que o título deveria ser 'Electropunk'", diz Beto.

"Electromod" será lançado com show em São Paulo nesta sexta (5). O grupo deve tocar mais da metade do álbum, que vem muito mais pesado que o anterior. A abertura será da banda Autoramas.

As duas aventuras sonoras da Cachorro tiveram o mesmo condutor, o produtor gaúcho Edu K, conhecido no mundo roqueiro desde os anos 1980, à frente da cultuada banda DeFalla.

"A importância dele é fundamental", opina o baixista Rodolfo Krieger. "Com ele a gente entra no estúdio com os arranjos em aberto, para experimentar, então fica menos careta, menos previsível", acrescenta Beto.

Da primeira faixa, "Tarântula", à última, "Ben-Hur" (um dos filmes favoritos do vocalista), o disco lembra realmente um grupo punk que tomou "banho de loja" tecnológico. Soa como o Oasis em sua fase mais suja, com trechos harmoniosos soterrados por um muro sonoro.

Pedro Pelotas, nos teclados, e Gabriel Azambuja, na bateria, completam a formação. Beto deixa seus colegas cantarem algumas faixas: "Pandora" (Gross), "De Longe Todo Mundo É Normal" (Pelotas) e "Subir É Fácil, Difícil É Descer" (Krieger).

Fiel às origens da predileção roqueira de seus integrantes, a banda deve lançar nas próximas semanas as versões de "Electromod" em fita cassete e vinil. "Passei a juventude trabalhando em loja de discos", diz Beto, 42, antes de colocar na vitrola de casa o LP "Nashville Skyline" (1969), de Bob Dylan.

ELECTROMOD
ARTISTA Cachorro Grande
GRAVADORA Coqueiro Verde
QUANTO R$ 30 (CD)

CACHORRO GRANDE
QUANDO sex. (5), à meia-noite
ONDE Cine Joia, pça. Carlos Gomes, 82, tel. (11) 3101-1305
QUANTO R$ 50 na portaria, R$ 40 antecipado
CLASSIFICAÇÃO 18 anos


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