Folha de S. Paulo


Qualidade compensou cortes no Festival de Campos do Jordão

Terminou no domingo (31) a 47ª edição do Festival de Inverno de Campos do Jordão. Mesmo com a estrutura reduzida, ele segue sendo um dos mais importantes itens do calendário musical brasileiro.

Claro que o nosso inverno musical não se restringe apenas a Campos: eventos relevantes e tradicionais ocorrem igualmente em Londrina (PR), Juiz de Fora (MG), Ourinhos (SP), Campina Grande (PB), Belém do Pará e tantas outras cidades, e somam-se a importantes festivais de verão, como a Oficina de Música de Curitiba e o FEMUSC, em Santa Catarina.

Mas, pela estrutura, longevidade, rigor na seleção e premiações oferecidas, participar do Festival de Campos do Jordão continua a ser o sonho de muitos jovens músicos brasileiros, especialmente os que se preparam para atuar em orquestras.

Elogiada por todos, a Orquestra do Festival –formada pelos bolsistas– apresentou dois programas diferentes, regidos por Arvo Volmer e Giancarlo Guerrero. A escolha do repertório dos bolsistas foi muito oportuna, e compensou, de algum modo, o corte de uma semana de trabalho em relação à edição do ano passado.

Da orquestra saíram as premiações: o Prêmio Eleazar de Carvalho (para bolsa no exterior) foi dividido entre a oboísta Layla Baratto (de 16 anos) e o violinista Nathan Oliveira (de 21 anos). O violoncelista Matheus Mello recebeu bolsa da Royal Academy, de Londres, e o violinista Vinicius Sousa da École Normal Alfred Cortot, de Paris.

A estadia dos alunos em São Paulo, com o uso e abuso de toda a estrutura da Sala São Paulo (onde foi montado um refeitório) para as aulas e ensaios, com deslocamentos bate-volta a Campos, representa uma economia brutal e maximiza o trabalho pedagógico.

Além disso, grande parte da programação foi repetida em São Paulo, o que permitiu aumentar e diversificar o público. Os concertos mais cedo (19h) na Sala do Coro tiveram ótima afluência - ou mesmo superlotaram, como o recital do Duo Halász (violão e piano) no dia 21/7.

Algumas novidades, como o Grupo de Música Antiga, dirigido por Luís Otávio Santos, são acertos que mercem prosseguir em edições futuras.

Seria importante, no entanto, resgatar pelo menos uma semana a mais de trabalho para a Orquestra do Festival, ter mais tempo para os cursos de violão e piano, e recuperar o curso de composição. Os cortes afetaram também a presença de orquestras de outros estados.

Ao que consta o público, em geral, foi excelente nas duas cidades, e os concertos de solistas e cameristas trouxeram tanto a experiência do quarteto Diotima, da França, como o recital do jovem pianista brasileiro Fabio Martino, que acaba de lançar um excepcional CD gravado na Alemanha.

Duas atrações, entretanto, marcaram o festival: a inédita montagem com músicos brasileiros de "Le Marteau sans Maître", de Pierre Boulez (1925-2016) –dirigida por Ricardo Bologna– e a histórica integral das seis "Suítes para violoncelo solo" de Bach (1685-1750) tocadas em uma única noite por Pieter Wispelwey.


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