Folha de S. Paulo


Apresentadora 'no susto', Silvia Abravanel recebe dicas de Silvio por WhatsApp

Na manhã de 15 de julho de 2015, Silvia Abravanel, 46, sentiu-se como uma "geleia pura". Às pressas, a filha número 2 de Silvio Santos foi parar em frente às câmeras do estúdio refrigerado e multicolorido do "Bom Dia e Companhia".

Até então, ela apenas supervisionava o programa como diretora do núcleo infantil do SBT, cargo que ocupa até hoje. Colocar a si mesma como apresentadora foi a solução para tapar o buraco deixado pelas crianças Matheus Ueta e Ana Julia.

A dupla —que acabaria, um ano depois, substituindo a atual titular em suas férias até esta segunda (1º)— foi proibida pela Justiça de apresentar a atração.

Os apresentadores mirins foram impedidos de trabalhar porque a Justiça considerou a carga de trabalho da dupla incompatível com a idade deles.

No susto, coube a Silvia anunciar desenhos como "Kung Fu Panda". Além de comandar gincanas com telespectadores pelo aplicativo de teleconferência Skype, cujo funcionamento ela explica didaticamente todas as manhãs.

Brincadeiras como batalha naval e jogo da velha valem prêmios (videogame, patins, R$ 1.000) sorteados numa roleta, que tornam o "Bom Dia e Companhia" uma versão mais colorida e ingênua dos jogos em que o próprio Silvio Santos distribui benesses em seus programas dominicais.

Enquanto, no ar, pedia a compreensão do público naquele 15 de julho ("me ajudem, não deixem de assistir ao programa"), por dentro, a novidade a deixava bamba como geleia.

"Não tinha cabeça, esqueci tudo, esqueci as regras das provas. Foi um drama. A sorte é que eu tenho uma equipe muito boa", conta à Folha num dos intervalos da atração. Ela aproveita enquanto um desenho está no ar para almoçar com sua equipe no refeitório do SBT, a poucos metros do estúdio, junto com os funcionários do canal.

O programa começa às 10h30 e, até sexta (29), durava até as 15h. Acabará 30 minutos mais cedo a partir desta segunda (1º) com a estreia do novo programa de fofocas da casa.

O pedido de ajuda ao público funcionou: o "Bom Dia e Companhia", um dos últimos infantis na TV aberta, manteve-se em segundo lugar com audiência na média de 5 pontos em todo o país (cada ponto equivale a 684 mil espectadores).

O programa, ela diz, é a "menina dos olhos" do pai. "Ele manda e desmanda aqui dentro, a gente só acata as ordens. A roleta é dele, tudo é dele. Só não os desenhos."

No último ano, Silvia ganhou confiança, aprendeu a empostar a voz com uma fonoaudióloga e, a pedido do pai, emagreceu.

O celular bipou com uma notificação do WhatsApp enquanto ela estava em Cancún, no início deste ano. Era um áudio de Silvio Santos dizendo que ela precisava emagrecer.

"Até me desmotivou. Gente, eu tô em Cancún, de férias, e eu tô gorda?", conta. Acabou dando ouvidos ao pai, e passou a "cuidar da imagem".

LINHA DURA

Primeira das seis filhas de Senor Abravanel a trabalhar diretamente com o pai na TV, Silvia começou aos 17 como produtora no "Domingo no Parque". "Quando entrei no estúdio, tinha 400 crianças gritando e pensei: que que eu vim fazer aqui?", lembra Silvia.

Hoje, é mãe de duas garotas e diz ter virado uma espécie de babá televisiva das crianças que a assistem no "Bom Dia".

Lidar com as sugestões rigorosas do "patrão" não foi dos aprendizados o mais fácil. "É um tranco muito forte, só sendo filho para aguentar", comenta Silvia, que chegou a dirigir o pai em programas como o "Roda a Roda".

Quando dirigia Celso Portiolli em um programa ao vivo de namoro na TV, Silvio telefonava eufórico a cada cinco minutos pedindo mudanças à filha.

"Mandava a gente fazer coisas, xingava", conta. "Depois de todo programa eu ia chorar no camarim do Celso Portiolli. E aí meu pai ligava [de novo]: 'Oi, meu amor, parabéns, foi excelente'."

Aos 19, a filha teve de aprender a confrontar o pai. Passou no vestibular para medicina veterinária na Unioeste, em Presidente Prudente, e se mudou para o interior de São Paulo à revelia de Senor Abravanel.

"Fui fazendo tudo por baixo dos panos. O assessor financeiro dele falou que não ia pagar minha faculdade. Respondi [aos pais]: 'Vou fazer faculdade vocês querendo ou não."

INDEPENDÊNCIA

Com o cofrinho do Homem do Baú fechado, Silvia conta que precisou vender as próprias coisas e alugar "um quartinho". "Era minúsculo, mas era meu. Fui orgulhosa para lá. Meu pai ensinou a gente a ser assim, independente."

Se Silvio é mais rigoroso como pai ou como chefe? A herdeira não titubeia: "Como chefe!".

O "Bom Dia e Companhia" é a terceira e mais longeva experiência da filha número 2 como apresentadora. Antes do infantil, ancorou o "Programa Cor-de-Rosa", de fofocas, e o "Casos da Vida Real".

Os elogios de Silvio Santos, diz, chegam "por recados": "Ele nunca teve essa coisa de passar a mão".

A ironia do apresentador, porém, é mais direta. Em novembro, ela participou do "Programa Silvio Santos" com a irmã Patricia, titular de uma das cadeira do quadro "Jogo dos Pontinhos" e do programa "Máquina da Fama".

"Você não nasceu para ser artista não, você foi artista por circunstâncias", disse o pai a Silvia. "Já essa aí [sobre Patrícia] já nasceu artista.

A apresentadora do "Bom Dia e Companhia" responde que evita as comparações com a irmã.

"Eu não nasci para ser artista mesmo. Ela nasceu, sempre gostou. Estou ali [no programa infantil] sendo mãe, brincando com as crianças que estão em casa. Não estou representando", comenta. "O artista vive a coisa de ser artista, está sempre preocupado com a imagem dele. Eu, não. Saio daqui, amarro um coque e coloco um moletom e vou aonde quiser."


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