Folha de S. Paulo


Estilistas levam discurso de Beyoncé a roupas da turnê Formation

Com menos de dois meses na estrada, estima-se que Beyoncé já tenha acumulado US$ 200 milhões (R$ 640 milhões) em ingressos da nova turnê Formation, cujo faturamento deve ultrapassar os US$ 229 milhões (R$ 732 milhões) arrecadados com a Mrs. Carter Show, de 2013.

Os números são tão extravagantes quanto o figurino da apresentação, o mais imponente (e caro) de sua trajetória.

Não é só "balançando" o vestido Givenchy, para citar um trecho da música que dá nome à turnê, que ela se sente "imprudente". Há Roberto Cavalli, Balmain, Gucci, Dsquared². A lista é grande.

Baseados em questões raciais levantadas no álbum "Lemonade", de abril, a exemplo da truculência policial contra negros e a luta por direitos civis, as grifes de luxo desenharam roupas que fundem o estilo dos brancos e negros à época da escravidão nos EUA, no século 19.

A direção da stylist nova-iorquina Marni Senofonte, que trabalha com Beyoncé desde o clipe "7/11" (2013), alinhavou a Pantera Negra imaginada pela popstar na nova fase –o stylist Ty Hunter, escultor do estereótipo de diva curvilínea trabalhado por ela anos atrás, saiu da equipe.

Foi Senofonte quem chamou os gêmeos canadenses Dean e Dan Caten, donos da marca Dsquared², para criar o look militar trajado por Beyoncé em sua apresentação no intervalo do Superbowl, em fevereiro, e o conjunto que abre o show da nova turnê, um maiô com cristais incrustados combinado com um enorme chapéu.

Confeccionado no México, o chapelão é uma das poucas peças que não sofreram adaptações nos últimos shows da diva pop. É uma referência às bruxas da região sul dos Estados Unidos.

Já a jaqueta com arreio de balas usada por Beyoncé na partida de futebol remete à roupa de Michael Jackson no mesmo espetáculo, em 1993. As peças foram elogiadas por realçar o físico da cantora.

Na mesma medida, porém, foram criticados por mostrarem, no intervalo mais cobiçado da TV americana, uma crítica à polícia local. Desde a morte de dois negros alvejados por policiais brancos, em julho, a mensagem de Beyoncé soa ainda mais alto.

"Ela não se importa [com as críticas], ficou feliz. É importante analisar como tudo aconteceu [a luta dos Panteras Negras pelos direitos civis dos afro-americanos] para que novas gerações não se esqueçam. Os figurinos são uma celebração à cultura negra", afirma Dan Caten. "Ao mesmo tempo, tinham de ser sexy", complementa Dean.

Colaboradores antigos de Madonna –eles desenharam roupas para a turnê Drowned World, de 2001–, dizem que Beyoncé, para quem criam há dois anos, entende que qualquer crítica ou referência que fizer sobre o racismo do seu país "vem acompanhada de negatividade".

Para eles, no entanto, tudo são flores. A repercussão dos figurinos resultou num novo look encomendado para a mesma turnê. Os conjuntos feitos pela marca são inspirados na última coleção da dupla, composta de referências à indumentária vitoriana.

Aguardada pelos fãs brasileiros, Formation ainda não tem data marcada no país.

PODER

Além das peças dos gêmeos, no guarda-roupa dos shows há espaço para um conjunto de látex da designer japonesa Atsuko Kudo, um body branco da grife francesa Balmain e um conjunto de "hotpant" e top da coleção de alta-costura da Givenchy. O visual "empoderado" é um dos pontos de partida para o discurso imagético de Beyoncé.

O "estilo Antebellum" –referência à época da Guerra de Secessão (1861-1865) –foi fundido às rendas e aos volumes vitorianos para, depois, receber elementos de moda urbana. "Há muita pesquisa sobre como seria o conceito de 'glamour moderno' desses guerreiros que Beyoncé representa. Ela sabe o papel dela, sabe que, no fim das contas, ninguém te dá o poder, você o pega para si", diz Dean Caten.


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